Da linguagem e sua relação com o autismo: um estudo linguístico saussureano e benvenistiano sobre a posição do autista na linguagem

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

04/08/2011

RESUMO

A linguagem é tema central nos estudos sobre o autismo por implicar em um dos pilares para o diagnóstico clínico desse transtorno do comportamento. Entretanto, antes de ser apenas um instrumento diagnóstico, é reduto de constituição e meio de enunciação do sujeito autista. Entender a relação entre este e a linguagem, a partir do reconhecimento do lugar que ocupa perante a língua, a fala e a linguagem, configurou o objetivo desta tese, construída no campo da teoria linguística baseada em concepções de Ferdinand de Saussure e nas concepções enunciativas de Émile Benveniste. A grande incidência de discussões teóricas sobre a linguagem em fonoaudiologia, marcada, sobretudo, pela caracterização ou pela observância de sua existência ou inexistência no autismo, além da escassez de diferentes estudos voltados para a percepção do autismo sob o ponto de vista da linguística, motivaram a construção desta tese. Esta se caracteriza como um estudo teórico no qual lançamos um olhar estruturalista sobre a linguagem, em que são apresentados trechos da linguagem de duas crianças autistas a título de ilustração em meio às discussões, evidenciando uma maneira peculiar ao autista se relacionar com a linguagem, com a língua e com a fala permeada pela segurança entre a linguagem e o sujeito. Concluímos que o sujeito autista está plenamente inserido no sistema linguístico saussureano de uma maneira peculiar, estabelecendo uma relação mais intensa com a fala em decorrência da objetividade das relações sintagmáticas em comparação às relações associativas que exigem a exposição do sujeito. Desta forma, estabelece uma relação desigual na língua marcada pela conquista de posições extremas: preso ao eixo sintagmático por meio de uma fala ecolálica ou solto no eixo associativo por meio de neologismos. Quando nos apoiamos nas concepções de Benveniste, concluímos que há dois tipos de relacionamento do sujeito autista com a fala: uma relação do tipo sujeitoobjeto marcada pela auto-estimulação e pela segurança no objeto e outra relação do tipo sujeito-linguagem caracterizada por ser a fala meio de enunciação do sujeito. Essas constatações permitiram-nos considerar que na linguagem há uma posição singular de sujeito da enunciação, onde as inadequações no uso dos pronomes comum à linguagem do autista, com a indiferenciação do eu e do tu, promove o surgimento da posição ele, alguém de quem se fala, como o lugar de enunciação do sujeito autista. Esse conhecimento possibilita ao fonoaudiólogo entender a linguagem como algo além da comunicação e compreender que a sintomatologia do autismo é, na verdade, a única possibilidade encontrada do sujeito se enunciar, sendo, portanto, uma característica da linguagem.

ASSUNTO(S)

fonoaudiologia autismo linguagem linguística letras language autism speech therapy linguistic

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