CUIDADO CLÍNICO E SOBREMEDICALIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

AUTOR(ES)
FONTE

Trab. educ. saúde

DATA DE PUBLICAÇÃO

06/05/2019

RESUMO

Resumo Este ensaio analisa a sobremedicalização (medicalização desnecessária e indesejável) gerada no cuidado médico aos adoecidos na atenção primária à saúde, discute como ocorre e como evitá-la. Articula na análise três grupos de concepções/saberes: concepções de doença (dinâmicas/ontológicas); concepções de causação (ascendente/multidirecional); eixos conceituais estruturantes do saber médico (anatomopatológico, fisiopatológico, semiológico, epidemiológico). A sobremedicalização deriva dos movimentos cognitivos dos profissionais na elaboração diagnóstica e terapêutica. Ela nasce da associação da concepção ontológica de doença com causação ascendente (fluxo causal que vai dos elementos materiais mais simples a dimensões e níveis mais complexos), em articulação com sobrevalorização do eixo anatomopatológico, geradora de excessivas intervenções diagnósticas e farmacoterapêuticas. Para evitar a sobremedicalização, propomos a associação virtuosa da concepção dinâmica de doença, com causação multidirecional e uso equilibrado dos eixos conceituais das doenças. Isso facilita: escuta qualificada; contextualização dos casos; mais criterioso uso de exames complementares; reconhecimento dos limites diagnósticos biomédicos; superação da razão metonímica (que despreza tudo o que não é saber cientificamente consagrado); amplificação da interpretação para além das 'doenças' e dos tratamentos para além dos fármacos/cirurgias, explorando os saberes dos usuários e profissionais, práticas complementares e a devolução de problemas para o manejo autônomo apoiado.Abstract This essay analyzes the overmedicalization (unnecessary and unwanted medicalization) generated in the medical care to the ill in primary health care, and discusses how it happens and how to avoid it. The analysis combines three sets of conceptions/knowledge: conceptions of illness (dynamic/ontological); conceptions of causation (ascending/multidirectional); key conceptual and structuring ideas about medical knowledge (anatomopathological, physiopatological, semiological, epidemiological). Overmedicalization is due to the cognitive movements of the professionals in the development of diagnoses and therapies. It originates from the ontological conception of illness with ascending causation (causal flow that goes from the simplest material elements to more complex levels and dimensions), in combination with the overestimation of the anatomopathological key idea, which generates excessive diagnostic and pharmacotherapeutic interventions. In order to avoid overmedicalization, we propose the virtuous association of the dynamic conception of illness, with multidirectional causation and balanced used of the key conceptual ideas of the illnesses. This facilitates: a qualified listening; the contextualization of the cases; a more rigorous use of complementary exams; the recognition of the limits of the biomedical diagnoses; the overcoming of the metonymical reasoning (which disregards anything that is not scientifically-established knowledge); an expansion of the interpretation that goes beyond the 'illnesses' and treatments that go beyond drugs/surgeries, exploring the knowledge of the users and professionals and the return of the problems to autonomous supported management.

Documentos Relacionados