Crises focais benignas do adolescente: disfunção neuropsicológica leve em pacientes da comunidade

AUTOR(ES)
FONTE

Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology

DATA DE PUBLICAÇÃO

2009-12

RESUMO

INTRODUÇÃO: Crises focais benignas do adolescente (CFBA) descritas por Loiseau et al. em 1972, são consideradas raras, mas podem ser subdiagnosticadas. Déficits neuropsicológicos leves foram relatados em pacientes com epilepsias benignas da infância, mas até o momento tais avaliações não foram descritas na CFBA. O objetivo deste estudo é avaliar as funções neuropsicológicas na CFBA de início recente (<12 meses). MÉTODOS: Oito pacientes com CFBA (segundo Loiseau et al. 1972, caracterizada por crises focais ou secundariamente tonico-clonico-generalizadas entre as idades de 10 a 18 anos), iniciadas nos últimos 12 meses, com exame neurológico normal, EEG normal ou com anormalidades focais, tomografia de crânio normal no período de Julho de 2008 a Maio de 2009. Os pacientes foram encaminhados do Setor de Emergência Pediátrica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, que é hospital de atendimento secundário regionalizado localizado em um distrito de classe média da cidade de São Paulo, SP. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição. Todos pacientes realizaram exame neurológico, EEG e tomografia de crânio. A avaliação neuropsicológica consistiu dos seguintes testes: Matrizes Progressivas Especiais do Raven - Escala Geral e Especial (de acordo com as diferentes idades), Escala de Inteligência Wechsler para crianças - WISC III - com perfil ACID, Teste Trail Making A/B, Teste de Stroop, Teste Visuo-Motor de Bender, Figura Complexa de Rey, Teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey - RAVLT, Teste de Nomeação de Boston, Teste de Fluência Verbal para padrões fonológicos e conceptuais-FAS/Animais e Teste de Organizacão Visual de Hooper. Para o desempenho escolar, foi usado o teste brasileiro chamado "Teste do Desempenho Escolar", que avalia as habilidades de leitura, escrita de acordo com o grau de escolaridade. RESULTADOS: Foram estudados seis pacientes do sexo feminino e dois, do masculino, com idades variando de 10 anos e 9 meses a 14 anos e 3 meses. A maioria (7/8) dos pacientes apresentou uma a duas crises e somente três receberam drogas antiepilépticas (DAEs). Seis pacientes apresentaram anormalidades focais leves no EEG. Todos estavam alfabetizados, frequentavam escolas regulares do sistema público e apresentaram avaliação de Quociente Intelectual na faixa média para idade e sete mostravam discretos valores maiores nos subtestes verbais. Havia valores menores para atenção em diferentes modalidades em seis pacientes, especialmente na atenção alternada e no controle inibitório (Testes Stroop-like e Trail Making parte B). Quatro dos últimos casos que mostraram prejuízo tanto na atenção alternada como inibitória não estavam tomando DAEs. A memória visual estava prejudicada em cinco pacientes (Figura Complexa de Rey). As funções executivas mostraram déficits na memória operacional em cinco, especialmente observados nos subtestes de Aritmética e na Ordem Indireta de Dígitos (WISC III). A leitura e escrita estavam abaixo da média esperada para a série escolar segundo o teste de desempenho escolar utilizado, em seis pacientes. Um dos pacientes que apresentava os maiores valores do grupo em todos os testes estava recebendo fenobarbital. CONCLUSÕES: Uma desproporção entre QI normal e disfunções neuropsicológicas leves tais como na esfera atencional e em algumas funções executivas como memória operacional e planejamento de ação, assim como na memória visual e problemas acadêmicos na leitura e escrita, foram descritos neste grupo de pacientes com CBFA da comunidade. Isto pode refletir disfunções neuropsicológicas leves em pacientes com crises idiopáticas do adolescente provavelmente causadas por um processo epileptogênico dismaturativo sobrejacente. Embora problemas acadêmicos escolares frequentemente apresentem múltiplas causas, uma abordagem educacional específica pode ser necessária nestes adolescentes, a fim de melhorar seu desempenho, ajudando desta forma a minimizar o estigma associado às crises epilépticas na comunidade.

ASSUNTO(S)

adolescência crises focais epilepsia benigna neuropsicologia

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