Correspondências do cárcere: um estudo sobre a linguagem de prisioneiros

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi analisar um conjunto de cartas de presidiários, buscando identificar o que significam para seus autores e as dimensões discursivas presentes neste gênero epistolar. Tomando o conceito de língua como discurso e considerando o contexto sócio-histórico e as condições de produção, buscamos compreender as representações que seus autores fazem de si e de seu interlocutor ideal, o juiz, bem como o significado do conteúdo das cartas. O corpus da pesquisa constituiu-se de oitenta cartas de autoria de presos de diversos estabelecimentos prisionais, dirigidas aos desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Brasil. Buscamos compreender a escrita dos presos por meio de uma metodologia essencialmente qualitativa (Análise do Discurso e Análise de Conteúdo), para identificar quem fala, para quem fala, o que fala, como fala e por que fala. O trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro, refletimos sobre o lugar de produção das cartas, a prisão, sua representação na mídia, a crise da justiça e sobre as figuras do preso e do juiz como locutor e interlocutor ideal, respectivamente; no segundo capítulo, dialogamos com os principais teóricos que nortearam a pesquisa, Bakhtin e Bourdieu, nos campos da filosofia da linguagem e da sociologia; no terceiro capítulo, fizemos um estudo sobre cartas do cárcere na literatura a partir da análise das obras de Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere), Tchékhov (Cartas a Suvórin), Joel Rufino dos Santos (Quando eu voltei, tive uma surpresa), Frei Betto (Cartas da Prisão) e Oscar Wilde (De Profundis); no capítulo quatro, apresentamos as metodologias de tratamento de dados e procedemos à análise propriamente dita. A pesquisa revelou o caráter dialógico do discurso do preso, o estilo e a expressividade dos enunciados. Percebemos que o preso tem consciência do desigual valor simbólico de seu discurso no mercado das trocas linguísticas. Também constatamos o significativo papel da mídia na reprodução de estereótipos criminosos. O estudo revelou, ainda, não haver dificuldade na compreensão objetiva dos enunciados, apesar da pouca escolarização dos indivíduos, evidenciando que o preso é letrado, do ponto de vista que modernamente é entendido no campo da Educação. Finalmente, constatamos que o preso encontra baixa receptividade por parte de seu interlocutor ideal, já que poucas cartas chegam ao destinatário, sendo, a maioria delas, respondidas de maneira burocrática pelos funcionários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

ASSUNTO(S)

crime e criminosos linguagem educação teses prisões cartas linguagem e educação analise de discurso

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