Corpo, sangue e território em Wounmaikat (nossa mãe terra) : uma etnografia sobre violência e mediações de alteridades e sonhos entre os wayuu na Colômbia e na Venezuela

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Os wayuu são um povo indígena de família lingüística arawak [arahuaca] que habitam na Península da Guajira, localizada sobre o mar do Caribe no extremo nordeste da Colômbia e na porção norte do extremo ocidental da Venezuela. Esta é uma tese que trata das dinâmicas coletivas e individuais dos wayuu. Eles estão culturalmente informados face à violência de genocídio no marco referencial do conflito interno armado na Colômbia. Sua dinâmica histórica e social tem sido perpassada pelo desdobramento da violência desde o período do contato colonial europeu, até os dias de hoje. Embora essa violência possa entender-se como um programa sistemático e racional de aniquilar as existências subjetivas e sociais do outro, pretendo ampliar essa perspectiva tomando em consideração uma dinâmica móbil e conflitiva de regimes de historicidade que aposta na agência social dos wayuu como sujeitos históricos. Os wayuu constroem, experimentam e significam dinâmicas culturais atreladas à violência de genocídio, mas que são ressemantizadas por eles através do protagonismo de entidades espirituais ativas que perpassam, tanto a vida como a morte enquanto planos contíguos, embora diferenciados, de existência social. Meu argumento é que wounmaikat (a mãe terra) dos wayuu é uma territorialidade física e social que tem como significante o espaço feminino no qual se vinculam as práticas sociais desse povo indígena. As mulheres wayuu constroem e mobilizam simbolicamente os sentidos da violência narrando e ressemantizando seus desdobramentos nos seus corpos e suas ações no palco das suas vidas cotidianas e no espaço público. Nessas ações elas reclamam pela reivindicação de direitos e travam embates com as estruturas políticas do Estado e do Para-estado. Nessa perspectiva são relevantes algumas questões: quais são os horizontes de sentido que mediam a ressignificação do genocídio no contexto social dos wayuu? Como as pessoas compreendem suas experiências individuais e coletivas na (e através) das relações sociais com seres existentes que potencializam também reivindicações por direitos dos wayuu? O que podemos dizer sobre a agência feminina wayuu e de uma etnopolítica em que as mulheres são tão visíveis e tão relevantes em seu protagonismo? Qual é o entendimento da territorialidade significada por eles como wounmaikat (a mãe terra)? Como se constroem as agências etnopolíticas dos movimentos indígenas, no espaço fronteiriço entre a Colômbia e a Venezuela? Para responder a essas questões, essa tese buscou uma aproximação com as lógicas na prática. O trabalho se sustenta em pesquisa etnográfica que tem como suporte metodológico a observação participante, em termos de uma relação de sentido com meus interlocutores wayuu.

ASSUNTO(S)

colômbia wayuu antropologia cultural venezuela genocidal violence antropologia social cultura indígena genocidal violence wounmaikat etnografia violência genocidio indios venezuelanos indios colombianos Índios wayuu

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