Convulsões não epilépticas psicogênicas em sala de recuperação pós-anestésica

AUTOR(ES)
FONTE

Rev. Bras. Anestesiol.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2016-08

RESUMO

Resumo Introdução: As convulsões não epilépticas psicogênicas (CNEP ou “pseudoconvulsões”) permanecem como tema obscuro no cenário perioperatório. Trata-se de distúrbios motores e cognitivos súbitos, mas por tempo limitado, que imitam as convulsões epilépticas, mas que são psicogenicamente mediados. Pseudoconvulsões ocorrem com mais frequência do que epilepsia em cenário perioperatório. O diagnóstico e o tratamento precoces podem evitar lesões iatrogênicas. Caso: Paciente do sexo feminino, 48 anos, com história de depressão e “convulsões”, apresentou-se para cirurgia ginecológica. A paciente descreveu sua história de convulsões “controladas” sem o uso de terapia anticonvulsivante. Foi submetida à anestesia geral sem intercorrências e recuperou-se neurologicamente intacta. Durante as duas primeiras horas de pós-operatório, apresentou três episódios semelhantes à convulsão, com tremores generalizados das extremidades e impulso pélvico; seus olhos estavam bem fechados. Não observamos mordedura da língua ou incontinência. Os episódios duraram cerca de três minutos cada; um dos episódios resolveu espontaneamente e os outros dois após a administração de lorazepam por via intravenosa. Durante os episódios, a condição hemodinâmica da paciente era estável e a ventilação adequada, de modo que a intubação traqueal foi considerada injustificável. Após a convulsão, a paciente estava neurologicamente intacta. Tomografia axial da cabeça, teste metabólico e eletroencefalograma não mostraram alterações. O diagnóstico de provável CNEP foi feito. Discussão: As convulsão não epilépticas psicogênicas imitam o tremor e devem ser inicialmente consideradas no diagnóstico diferencial de tremor pós-operatório, pois podem ser mais prováveis do que a epilepsia nesse cenário. Os padrões da pseudoconvulsão incluem episódios convulsivos assíncronos que duram mais de 90 segundos, olhos forçadamente fechados com resistência à abertura e respostas pupilares mantidas. Manifestações autonômicas, como taquicardia, cianose e incontinência, normalmente estão ausentes. Uma história psiquiátrica é comum. O conhecimento e o diagnóstico correto de pseudoconvulsões são muito importantes para os anestesiologistas para a prevenção de morbidade e lesões iatrogênicas, como a parada respiratória causada por terapia anticonvulsivante, além dos riscos associados à intubação orotraqueal e internação prolongada. O diagnóstico de pseudoconvulsões deve ser cuidadosamente documentado e retransmitido nas trocas de equipes médicas para evitar erros de diagnóstico e complicações iatrogênicas. As recomendações de tratamento são anedóticas; intervenções psiquiátricas são o pilar do tratamento. As recomendações anestésicas incluem técnicas que envolvem o uso de agentes de ação curta, juntamente com altos níveis de apoio e amparo psicológico no período perioperatório.

ASSUNTO(S)

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