Contribuições da perspectiva evolucionista para a compreensão do transtorno obsessivo-compulsivo / Contributions of evolutionary perspective for the understanding of obsessive compulsive disorder

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo avaliar as contribuições da perspectiva evolucionista para a compreensão dos processos psicológicos humanos, e em particular para o entendimento das psicopatologias, com especial atenção para o transtorno obsessivo-compulsivo, resgatando também algumas proposições levantadas em um trabalho anterior a partir da investigação de estereotipias comportamentais apresentadas por animais em cativeiro, na busca de possíveis contribuições para a compreensão de seu análogo nos humanos. Para cumprir este objetivo, são descritos os níveis de análise característicos da aplicação da abordagem evolucionista, sendo discutida a noção de patologia, e mais especificamente psicopatologia, numa perspectiva evolucionista. Dentro do campo da psicologia evolucionista, são discutidos os conceitos de modularidade da mente, sistemas funcionais e ambiente de adaptação evolutiva. É realizada então a exploração de uma psicopatologia humana específica, o transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC, descrevendo sua fenomenologia e destacando a classificação das diferentes categorias de sintomas, que servirão como um parâmetro para o levantamento de hipóteses evolucionistas. É discutida a presença de comportamentos compulsivos e ritualizados fora do contexto da psicopatologia, levantando a questão de um possível continuum entre estes fenômenos, da vida cotidiana ao transtorno obsessivo-compulsivo. Segue-se um levantamento dos principais estudos epidemiológicos, visando à caracterização da manifestação deste transtorno ao redor do mundo, com atenção ao seu caráter homogêneo, às particularidades e às diferenças entre gêneros. São levantados os dados mais consensuais a respeito da psicobiologia do TOC, como a participação de doenças infecciosas na manifestação de sintomas obsessivo-compulsivos. Buscando recuperar a perspectiva filogenética na abordagem da neurociência, é discutido modelo do cérebro triuno de Paul MacLean. São apresentados os modelos animais utilizados na investigação do TOC, iniciando-se a aproximação com a etologia, sendo retomados alguns de seus conceitos fundamentais, que têm sido usados freqüentemente na abordagem do transtorno obsessivo-compulsivo, como padrão fixo ou modal de ação, atividade deslocada, estereotipia comportamental, e ritualização. São discutidas por fim as principais hipóteses evolucionistas sobre o transtorno obsessivo-compulsivo, com destaque para os modelos que apresentam idéias similares: o modelo de simulação de cenários de risco, o modelo de prevenção de situações de risco, e o sistema motivacional de segurança. Tais modelos sugerem que o desenvolvimento do TOC envolve uma alteração em um sistema funcional voltado para a prevenção de riscos. O predomínio de sintomas de caráter social, sobretudo aqueles ligados a adequação a normas e regras, sugere também o envolvimento de um sistema funcional específico, indicando a importância das pressões seletivas que conduziram ao desenvolvimento de um "cérebro social", a partir de adaptações que favoreceram o estabelecimento de relações sociais complexas.

ASSUNTO(S)

psico-etologia psychoethology obsessive compulsive disorder stereotypes estereótipos (psicologia) transtorno obsessivo-compulsivo

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