Contribuição da aerogeofísica na caracterização de suturas colisionais e de sistemas transcorrentes: o exemplo de Porangatu, Brasil Central

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo integrar interpretações aerogeofísicas de alta resolução e de mapeamento geológico básico para avançar no conhecimento tectônico da região de Porangatu GO. No processamento de dados foram utilizados os produtos do Levantamento Aerogeofísico do Estado de Goiás Bloco 1, Arco Magmático de Mara Rosa, série 3008 da base Aero do Serviço Geológico do Brasil -CPRM, realizado em 2004. Esses dados foram adquiridos com taxa de amostragem de 0,1 s para a magnetometria e de 1,0 s para a gamaespectrometria, com altura nominal de vôo de 100 m, linhas de produção N-S, espaçadas de 500 m, e as linhas de controle E-W com espaçamento de 5000 m. O processamento constituiu basicamente na definição do algoritmo interpolador (krigagem) e tamanho de célula de interpolação (125 m), o micronivelamento, visando homogeneizar a distribuição espacial, e a geração dos temas transformados do Campo Magnético Anômalo, tais como Amplitude do Sinal Analítico, Amplitude do Gradiente Horizontal Total, Inclinação do Sinal Analítico e Deconvolução de Euler, além dos produtos radiométricos. A arquitetura crustal da região de Porangatu é caracterizada por um arranjo de blocos litosféricos, com características isotópicas e geocronológicas distintas, colocados adjacentes por um regime tectônico convergente oblíquo, sendo o limite desses blocos importantes descontinuidades tectônicas. Os grandes limites foram associados a descontinuidades gravimétricas, sísmicas e magnetométricas, interpretadas como feições tectônicas profundas de primeira ordem, representadas por zonas de cisalhamento transcorrentes de grande magnitude, sendo a principal o Lineamento Transbrasiliano (LT), considerada a cicatriz de uma zona de sutura colisional. As interpretações dos produtos aerogeofísicos associadas ao mapeamento geológico na escala 1:100 000 da Folha Porangatu permitiram a caracterização de um sistema de transcorrência destral, o qual apresenta feições de arrasto subordinadas à mega zonas de cisalhamentos de direção N30E representantes dos Lineamentos Transbrasilianos. A configuração do sistema controla o alojamento ígneo tardi a pós-tectônico em zonas de fraquezas crustais. Este foi denominada Sistema Transcorrente Porangatu. Com o mapeamento geológico foi possível identificar três grandes entidades geológicas: Complexo Arqueano Serra Azul, Complexo Porangatu Novo Planalto e terrenos associados ao Arco Magmático de Mara Rosa. O Complexo Arqueano Serra Azul constituído por gnaisses graníticos foi imbricado tectonicamente em meio a rochas mais jovens no fechamento deste sistema convergente no final do neoproterozóico. E separa o Complexo Porangatu Novo Planalto (a W), dos terrenos associados ao Arco Magmático de Mara Rosa (a E). Nos domínios dos terrenos gerados em ambiente de arco magmático, diversos autores com o advento da geocronologia identificaram duas principais fases de atividade ígnea, sendo a mais antiga entre 890 e 800 Ma, e a mais nova no período de 660 a 600 Ma. As rochas relacionadas ao Arco Magmático de Mara Rosa apresentam amplo espectro de composicional, variando desde gabros, anfibolitos, tonalitos até granitos. A discriminação das séries da magnetita e da ilmenita proposta por Ishihara (1977), como indicativa de evolução de um sistema de arco magmático foi aplicada com sucesso, identificando uma zonação bipolar de domínios de susceptibilidade magnética (SM) na Imagem da Amplitude do Sinal Analítico, e posteriormente, corroborado pela micropetrografia que identifica esses minerais. Os temas radiométricos também apresentam as concentrações dos três radioelementos (K, Th e U) de forma bipolar, indicando baixos teores coincidentes espacialmente com altos valores de susceptibilidade magnética. A descontinuidade abrupta observada tanto nos produtos radiométricos como nos magnetométricos também é coincidente e aqui denominada Descontinuidade Geofísica Porangatu Mutunópolis Amaralina (DG-PUMA). A DG-PUMA possivelmente está relacionada à justaposição de terrenos de duas fases de acresção crustal distintas. A leste da DG-PUMA (alta SM, 0,04?T/m) dominam principalmente gabros e magnetita-hornblenda tonalitos toleíticos a calci-alcalinos com eNd (t) positivo evidenciando que estas rochas foram derivadas de crosta juvenil indicando pouca contaminação crustal, gerados num ambiente de arco de ilhas intra-oceânico entre 890 e 800 Ma. A oeste da DG-PUMA (baixa SM, 0,001 a 0,01?T) predominam granada tonalitos e granitos calci-alcalinos de altos K e Sr com eNd negativo cristalizadas entre 660 e 600 Ma num estágio mais evoluído do sistema de arco magmático com contribuição crustal. O Complexo Porangatu Novo Planalto é representado por gnaisses tonalíticos a graníticos com idades U-Pb em zircão em torno de 570 a 530 Ma, sendo proposta uma história tectônica envolvendo maior complexidade para o sistema de arco magmático. Também como representante deste complexo está uma faixa de granulitos máficos disposta paralela a Z.C. Talismã, possivelmente representante de material de nível crustal mais profundo exumado pelo fechamento do sistema. As respostas da Deconvolução de Euler mostram no domínio dos lineamentos transbrasilianos alta densidade de soluções configurando um plano vertical de direção N30E. Este plano é associado à Zona de Cisalhamento Talismã, onde ocorrem milonitos limitados por faixa de granulitos máficos, sendo este plano interpretado como descontinuidade de primeira ordem e representante da sutura colisional na área de estudo. Assim, o presente trabalho propõe a delimitação espacial dos terrenos relacionados a essas duas fases de acresção crustal dentro da evolução do Arco Magmático de Mara Rosa, transicionando de ambientes intra-oeânico para continental e identifica limites tectônicos.

ASSUNTO(S)

aerogeofísica arco magmatico sutura geofisica aplicada

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