ConstruÃÃo de vÃnculos entre crianÃas numa situaÃÃo transitÃria de abrigo

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Este trabalho buscou examinar interaÃÃes de crianÃas que convivem em situaÃÃo transitÃria de abrigo, observando-as em suas brincadeiras espontÃneas, e inferir relaÃÃes de vÃnculos afetivos que pudessem existir entre elas. Partiu da concepÃÃo de que no abrigo ocorrem fenÃmenos interacionais, tanto quanto em outros contextos de convivÃncia, e que a crianÃa busca ativamente relaÃÃes afetivas com os parceiros disponÃveis. Autores de referÃncia na literatura psicolÃgica, nesta Ãrea, como Bowlby e Spitz, admitem que as primeiras relaÃÃes entre a crianÃa e o cuidador, normalmente a mÃe, sÃo fundamentais para um adequado desenvolvimento psicolÃgico, sobretudo a capacidade posterior da crianÃa para estabelecer vÃnculos. Bowlby caracterizou essa vinculaÃÃo inicial entre a mÃe e o bebà e a chamou de sistema de apego. Ademais, esses dois autores chamaram a atenÃÃo sobre os prejuÃzos ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da crianÃa, se o seu cuidado fosse incumbido a diversos adultos. Por outro lado, os estudos de Carvalho adotam a perspectiva de que o vÃnculo à um processo inferido a partir das relaÃÃes entre indivÃduos, caracterizando-se como uma relaÃÃo preferencial de um parceiro por outro, mediada pelo afeto, e com o qual constrÃi compartilhamentos, que por sua vez o alimentam. Apoiando-se nesta perspectiva, levaram-se a cabo vÃrias sessÃes de observaÃÃo, de vinte e uma crianÃas, com idades entre um e quatro anos, brincando livremente no pÃtio ou sala do abrigo. As observaÃÃes foram registradas em vÃdeo e, em seguida, recortadas em segmentos, chamados de episÃdios, que pareceram mais produtivos de ser analisados em detalhes que permitissem alÃar os prÃprios objetivos das crianÃas ao brincarem, os significados que construÃam com os parceiros, as estratÃgias usadas para compartilharem e manterem suas brincadeiras e, ainda, perscrutar possÃveis relaÃÃes de vÃnculos existentes entre elas. Foram identificadas diversas estratÃgias, plausÃveis de serem agrupadas de acordo com trÃs grandes propÃsitos da crianÃa: 1) construir e compartilhar uma brincadeira com o parceiro; 2) proteger e confortar outra crianÃa; e 3) conseguir um objeto de seu interesse para o brincar. Oito episÃdios foram descritos, com algum grau de detalhamento, a fim de discutir a pertinÃncia de indicadores para a inferÃncia de vÃnculos entre parceiros. Os resultados evidenciaram que as crianÃas, vivendo hà um bom tempo na instituiÃÃo, em mÃdia, vinte e quatro meses, revelam-se ativas no seu prÃprio desenvolvimento. Muito embora exista rotatividade de cuidadores, a crianÃa busca seu parceiro como apoio e suporte, bem como compartilha com ele sentimentos positivos ou negativos. O padrÃo de comportamentos encontrado em algumas crianÃas possibilita a inferÃncia de vÃnculos, contrariando uma concepÃÃo corrente de que elas, quando afastadas do convÃvio familiar, nÃo sÃo capazes de estabelecer relaÃÃes significativas com outros. Esse padrÃo inclui: a orientaÃÃo preferencial do parceiro; o envolvimento do parceiro em suas atividades ou seu prÃprio envolvimento na atividade do parceiro; o conforto ou proteÃÃo do parceiro em decorrÃncia de episÃdios agonÃsticos com outrem; e, por fim, a busca de proximidade fÃsica. O tema vinculaÃÃo entre crianÃas merece ser explorado em contextos de abrigo ou em outros contextos de desenvolvimento, de modo que possam ser aprofundas questÃes como: caracterizaÃÃo do vÃnculo como uma relaÃÃo nÃo-simÃtrica; aspectos desencadeadores e mediadores do vÃnculo; tipos de vinculaÃÃo possÃveis; e outras questÃes. Finalmente, conclui-se que a brincadeira à âum lugar ecologicamente relevanteâ para se estudar interaÃÃes de crianÃas, bem como passÃvel de se inferir o vÃnculo de uma crianÃa por outra

ASSUNTO(S)

sheltered children desenvolvimento infantil child development play bond interaÃÃo social vÃnculo brincadeira psicologia social interaction crianÃas institucionalizadas

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