Constituição e superação de momentos desconfortáveis em sequências de convites à participação : a construção do engajamento na fala-em-interação de sala de aula

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O presente trabalho examina a construção e a trajetória sequencial de momentos desconfortáveis (Erickson & Shultz, 1982) na fala-em-interação de salas de aula de português como língua adicional. A perspectiva teórico-metodológica que fundamenta o estudo é a Análise da Conversa Etnometodológica aliada a contribuições da Sociolinguística Interacional e de estudos que, por meio de uma abordagem microanalítica, investigam a fala-em-interação em sala de aula e em outros cenários institucionais. O corpus de análise se constitui de aproximadamente 24 horas de gravações audiovisuais geradas no Programa de Português para Estrangeiros da UFRGS no período compreendido entre setembro e novembro de 2008. Dentre as ocorrências de momentos desconfortáveis registradas, foram selecionados dez segmentos para a transcrição seletiva e análise minuciosa, sendo quatro excertos desses segmentos apresentados nesta dissertação como representativos do que foi encontrado na totalidade do corpus. Nos dados analisados, os momentos desconfortáveis foram identificados como instâncias que se estruturam por meio da oferta contínua de convites à participação dirigidos pelo professor (isto é, práticas pedagógicas em que há a abertura do espaço da sala de aula para a participação e a construção de conhecimento pelos alunos) e de sua respectiva não aceitação reiterada pelos alunos. A trajetória sequencial desenvolvida a partir de tais momentos, no entanto, se apresentou como variável. Por um lado, quando os participantes demonstram não conseguirem fazer sentido dos convites, não produzindo um mundo em comum entre eles, o desconforto é intensificado turno a turno e redunda em algo próximo de ruptura entre os participantes, em que se verifica a topicalização do desconforto e o abandono do tópico que fora perseguido até então. Por outro lado, quando os participantes conseguem, por meio de esforços conjuntos e contínuos, fazer sentido dos convites à participação propostos, tais convites tendem a ser aceitos, levando o momento desconfortável para uma situação de distensão, e, em algumas ocasiões, oportunizando a escalação do convite (Jeferson, Sacks, & Schegloff, 1987), caracterizada pelo maior alinhamento entre as ações dos participantes, bem como maior autonomia de todos em relação ao que juntos se engajam em construir, isto é, há o fortalecimento da intersubjetividade entre os diversos participantes, sinalizando o que talvez seja o trabalho de fazer aprender em suas ações. A investigação realizada oferece contribuições para estudos que buscam descrever a construção conjunta de conhecimento entre os participantes por meio da fala-em-interação, uma vez que a descrição do modo como os participantes conseguem lidar com problemas interacionais é crucial para a criação de condições para a construção da aprendizagem.

ASSUNTO(S)

estudos da linguagem interação lingüística aplicada sociolingüística ensino e aprendizagem

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