Considerações para um novo sentido religioso em Nietzsche: transvaloração do sagrado

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2000

RESUMO

Considerações para um novo sentido religioso em Nietzsche: a transvaloração do Sagrado. O que pretendemos com esse tema é explorar as condições nietzscheanas para uma nova possibilidade religiosa. Certamente, partimos do próprio filósofo para fazermos nossas reflexões que se abrem para os caminhos percorridos por ele, tendo em vista seu mundo sem Deus até a elaboração, por si próprio, da vida como sentido. Desde a descoberta de que Deus morreu, o sentido da vida esvaziou-se (niilismo). Porém, a perspectiva nietzscheana indicou-nos que não devemos procurar fora de nós o que já está dentro de nós mesmos, ou, melhor ainda: o que somos. Nesse contexto, em que a metafísica é perseguida por ele já no seu surgimento e é, desde então, desmascarada, aparece-nos claramente a pretensão de Nietzsche em criar novos valores. Não seria mais possível conviver com aquilo que teria sido um golpe sobre o mundo como vontade de potência criadora, a ponto de querer imobilizar todas as paixões, inclusive aquelas sob a forma de pensamentos. Se Sócrates criou a moral da verdade e se Platão erigiu um outro mundo como sendo verdadeiro, Nietzsche tomou como referência, para uma nova avaliação, a própria vida como devir, como um pathos (um forte impulso) que não deixa o além, eterno e estático, imperar sobre nós. Foi, dessa forma, que apontou para esta vida, como ela é, como um eterno bailar em que deus não mais lhe é estranho, porque é um deus que dança. Há uma explosão de movimentos, pois tudo agora veio à tona como essa bailadora vontade de potência. Aquele homem metafísico e também racionalista, cientificista, já não responde mais às novas necessidades ou às necessidades redescobertas. Somente um homem novo seria capaz de dizer um eterno sim aos seus mais profundos abismos, sem desesperar-se ao ver-se enquanto vir-a-ser. É ele o além-do-homem, que sabe, porque sentiu em si mesmo, o que é genealogia, perspectivismo e transvaloração. Para o filósofo, esse homem é grande e forte o bastante até para não se deixar abater diante de tudo o que é mesquinho. É o projeto nietzscheano, que lemos como um novo sentido religioso, em que sagrada é esta vida como vontade de potência. O além-do-homem se reconhece assim. Nesse teor, existência e vontade de potência são sinônimos, sem, entretanto, formarem um absoluto. O cosmo, portanto, seria somente uma interpretação de unidade, pois que não é outra coisa senão uma pluralidade de forças que não se fundem, mas apenas se relacionam. Tais relações são denominadas como diferentes vontades de potência, efetivações dessas forças. Forças e vontades não se desvinculam. Eis aí o Sagrado do filósofo, a irrupção de divindades que dançam. Devires eternos. Assim é que Nietzsche acabou decretando um basta ao monótono-teísmo que dominou por milênios. Enfim, os deuses não estão mortos. É o dogma que pretendemos constatar na sua singular pluralidade, a vontade de potência.

ASSUNTO(S)

conceitos nietzscheanos ciências sociais aplicadas nietzsche, friedrich wilhelm, 1844-1900 - crítica e interpretação cosmovisão religião - filosofia

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