Consciência e liberdade em Sartre : por uma perspectiva ética

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O advento da moral em Sartre delineia-se através da afirmação da liberdade, o único fundamento e a fonte de todos os valores. A consciência constitui-se, no âmago da História, como consciência moral ao tornar-se avaliação e reflexão sobre os seus valores, que reclamam um fundamento e esse fundamento é a consciência enquanto liberdade: a consciência está na origem do valor. A obra moral que Sartre prometera no final de L être et le néant pode encontrar seu prolongamento nos Cahiers pour une morale, possibilitando esboçar os traços de uma moral autêntica como uma angustiante interrogação cravada no coração dos homens e não em uma série de prescrições meramente abstratas. A questão central dos Cahiers é a do lugar do valor no domínio da moral, tal como se colocava a Sartre no final de L être et le néant, a partir da concepção da liberdade que aí formulava: a liberdade e a responsabilidade colocadas em uma dimensão ética. Sendo o mundo constituído dentro de uma relação de interdependência, a autodeterminação, a coletividade e a História é que fundamentarão essa liberdade e essa responsabilidade eticamente. O ponto de partida do pensamento sartreano é a subjetividade, apresentando a figura de um homem que é transcendência e que, por isso mesmo, faz parte da História e encontra-se sempre interligado com outras consciências, de modo que a moral e a historialização afirmem a liberdade. Falar de coexistência é colocar diante do ser uma moral do dever-ser que suponha uma destotalização, uma criação moral que jamais poderá ser independente das circunstâncias históricas: liberdade e cogito são a fonte de todo valor. A moral da ação e do engajamento apenas é defensável por meio de uma liberdade que não seja abstrata, mas somente exercida em situação concreta, por um indivíduo que produza a totalidade e por ela seja produzido. Não há a priori, não há verdades reveladas e é assim que o coeficiente de adversidade surge durante o processo, permitindo ao homem revisar seus valores e exercer o ato criativo: o homem se engaja em um mundo resistente. Como não está só, o valor, o dever e a obrigação surgem por meio de um jogo dialético de consciências livres entre si. Eis a concepção sartreana do reconhecimento do agrupamento humano como totalidade destotalizada. Portanto, apenas é possível compreender a Moral ao aprofundar-se nas relações entre moral e história. O sistema de fins só pode ser colocado por um sujeito que se projeta no futuro, que constrói suas próprias possibilidades, em e pela realidade humana concreta. A praxis, definida pela visão Dialética da tensão entre Universal-Singular se dá por um sujeito que reconhece sua própria autonomia e a dos outros, atualizando sua liberdade e a do outro e por uma conversão que se faz em situação: a verdadeira moralidade concreta será possível apenas pela ação sistemática sobre a situação, suprimindo a alienação.

ASSUNTO(S)

existencialismo Ética filosofia ontologia

Documentos Relacionados