Configurações das relações de poder no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Belo Horizonte

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

O atendimento às urgências, no Brasil, constitui-se em um desafio a ser enfrentado dentro de uma proposta de efetivação do cuidado integral. Para desconcentrar a atenção efetuada exclusivamente nos prontos-socorros, foi instituída, em 2003, a Política Nacional de Atenção às Urgências. Seu componente pré-hospitalar móvel contemplava a implantação dos Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Em Belo Horizonte, a implantação do SAMU foi um marco definidor das políticas de atenção às urgências, ao qualificar a ação do sistema de saúde, antecipando-se à atenção hospitalar. Em sua estrutura, há relações próprias de uma organização de trabalho, com lutas por espaços e defesa de interesses, o que nos conduz a uma reflexão sobre como os atores sociais se inscrevem num sistema de posições e relações estabelecidas. Algumas tensões têm se mostrado presentes nas relações estabelecidas entre os próprios profissionais desse serviço, bem como em relações com profissionais de outros níveis assistenciais. Compreender essas tensões envolve questionamentos sobre como as práticas são organizadas nesse contexto. A análise das práticas auxilia a compreender como os arranjos são estabelecidos e como são admitidos e aceitos em um determinado momento. É nesse sentido que o pós-estruturalismo oferece recursos teórico-filosóficos para o desenvolvimento deste estudo, pois oferece subsídios para responder a perguntas relacionadas a como práticas são organizadas em determinado cenário. Tem em posição central a noção de que o poder não está limitado apenas a instituições formalmente estabelecidas, mas é imanente a todas as relações. O SAMU constitui-se em um cenário privilegiado de vivências de relações de poder, as quais refletem a singularidade e os conflitos inerentes ao trabalho de uma equipe de profissionais que desenvolve suas práticas a partir de estreitas relações com outros profissionais alocados em diferentes níveis assistenciais. O objetivo do estudo foi compreender como se configuram as relações de poder vivenciadas por profissionais do SAMU de Belo Horizonte, considerando-as como práticas sociais que se constituem cotidianamente no processo de trabalho. A metodologia utilizada foi o estudo de caso qualitativo. O cenário do estudo foi o SAMU de Belo Horizonte e os sujeitos foram 31 (trinta e um) profissionais do Serviço. Os dados foram coletados utilizando-se entrevista de roteiro semi-estruturado e submetidos a análise de discurso, organizados em três categorias analíticas. Na primeira, o poder como prática social no SAMU, foi feita uma análise sobre a constituição do poder nas práticas cotidianas de suas equipes de trabalho. Na segunda categoria, Sistema de Atendimento Móvel de Urgência: o trabalho na vitrine, foi discutida a questão da visibilidade como fator de organização do poder na estrutura do trabalho. Na terceira categoria, gerenciamento da diferença: a questão da demarcação de territórios, foi discutida a questão da definição de limites e territórios de atuação profissional a partir de lutas cotidianas no cenário em questão. Nas três categorias, buscou-se relacionar as relações de poder com as práticas vivenciadas pelas equipes do SAMU. Considerando-se a ubiquidade das relações de poder, sua análise no contexto do SAMU contribuiu para a compreensão de seu papel nas relações estabelecidas e para o entendimento das estratégias empregadas na contenção dos seus efeitos. Para isso, há que se considerar que o conhecimento é inseparável das práticas, assim como também é inseparável dos elementos que as constituem: normas, fazeres e discursos.

ASSUNTO(S)

poder (psicologia) decs serviços médicos de emergência decs assistência pré-hospitalar decs relações interprofissionais decs ambulâncias decs pesquisa qualitativa decs humanos decs dissertações acadêmicas decs enfermagem decs enfermagem teses questionários decs brasil decs

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