Comunidades benticas de moluscos da zona entremares da região do Araça, São Sebastião, SP

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1995

RESUMO

Amostras quantitativas da macrofauna (>0,5 mm) malacológica da zona entremarés de praias arenosas na região do Araçá (23°49 S e 45°24 W), Município de São Sebastião (São Paulo, Brasil), foram tomadas com o objetivo de avaliar a estrutura da comunidade após os efeitos de distúrbios físicos, causados por obras de engenharia na área. Em cada estação foi amostrada uma área de 1/20 m2 e 10 cm de profundidade, medidas as temperaturas do ar e sedimento e a salinidade da água intersticial. Foram, também, colhidas amostras do sedimento para análises de granulometria, do conteúdo de calcário e de matéria orgânica. Em duas estações, sobre um banco de Anomalocardia brasiliana, foram coletadas amostras de 0,25 m2 e 5 cm de profundidade. O estudo fundamentou-se em observações sobre a distribuição espacial e temporal e nos atributos biológicos da subcomunidade de moluscos, incluindo grupos tróficos e características nicho-substrato. Considerou-se que as seguintes variáveis poderiam afetar a distribuição da comunidade: distribuição ao longo da praia (diferenças entre as várias estações e transectos); distribuição horizontal em relação aos níveis de maré; distribuição das espécies nos estratos verticais do sedimento e diferenças temporais (sazonais). Ao final de 17 meses, um total de 214 estações distribuídas em 5 transectos foram analisadas. Para a avaliação da estrutura, os seguintes parâmetros biológicos foram pesquisados: freqüência, riqueza, diversidade, eqüitabilidade, dominância e ordem de abundância de espécies. Para a análise da estrutura trófica, cada espécie foi classificada a partir de seus hábitos alimentares, através de fontes bibliográficas, em uma das seguintes categorias: Herbívoro, Carnívoro, Carnívoro/Saprófago facultativo, Suspensívoro e Detritívoro/Detritívoro facultativo. Grandes alterações físicas foram constatadas na área, um gradiente entre duas regiões mais características ficou evidenciado: A primeira constituída pelos transectos I,II e V e a segunda pelos transectos III e IV. Nos transectos I e V houve predominância de areia fina com presença de areia média, enquanto que, no transecto IV ocorreu apenas areia muito fina. Além disso, nos transectos I, II e V houve predominância de sedimentos pobremente e moderadamente selecionados. Nos transectos III e IV, ao contrário, os sedimentos foram predominantemente muito bem e bem selecionados, respectivamente. Comparações entre estações revelaram números baixos de espécies e indivíduos. Entretanto, os padrões de estrutura de comunidades, expressos através de índices faunísticos, curvas de abundância de espécies ordenadas e análises multivariadas, estiveram correlacionadas com as propriedades do sedimento (tamanho e seleção do grão, matéria orgânica e conteúdo de silte + argila); com a distância da linha d água, com a salinidade e com o grau de perturbação diferencial na área. Diferenças nos padrões de ocupação do nicho ecológico de algumas espécies foram estabelecidas, seja em relação a suas distribuições nos transectos, em relação à linha d água, ou em relação a suas distribuições temporais. Os padrões nicho-substrato revelaram que o domínio de formas ocupando apenas a subsuperfície pode ser explicado pela alta concentração de formas jovens no Araçá. Os padrões de distribuição dos grupos tróficos estiveram, de modo geral, de acordo com os citados na literatura, que relatam a maior abundância de espécies da epifauna em sedimentos arenosos com presença de material conchífero e fragmentos de rochas; de suspensívoros em sedimentos mais grosseiros e detritívoros dominando ambientes deposicionais. A estrutura da comunidade de moluscos do Araçá não parece ter sido condicionada por um padrão sazonal inerente à comunidade, mas sim por um padrão de reorganização que se segue aos efeitos de um distúrbio. A abundância e o número de espécies, em comparação com outras comunidades, também notavelmente baixo. A fauna malacológica foi dominada por uma combinação de espécies oportunistas pequenas, tais como Corbula caribaea; de jovens de várias espécies de telinídeos, como Tellina versicolor, T. brasiliana e Macoma uruguayensis de hábitos detritívoros e de espécies maiores de vida longa e alta resistência, como Anomalocardia brasiliana. O posterior aumento do número de espécies esteve relacionado a um maior recrutamento, decorrente da diminuição das condições desfavoráveis

ASSUNTO(S)

comunidades animais molusco ecologia

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