Comunicação da morte: modos de pensar e agir de médicos em um hospital de emergência

AUTOR(ES)
FONTE

Physis

DATA DE PUBLICAÇÃO

14/01/2019

RESUMO

Resumo Este estudo objetivou compreender como os médicos lidam com o processo de comunicar a morte aos familiares em um hospital de emergência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, embasada na antropologia interpretativa e médica. A coleta dos dados deu-se em um dos maiores hospitais públicos de emergência da América Latina, ao longo de nove meses de observação participante. Foram entrevistados 43 médicos. A análise foi êmica e guiada pelo modelo dos signos, significados e ações. Embora a morte seja um evento frequente pela gravidade dos casos atendidos, os médicos percebem as vivências da comunicação do óbito como uma das tarefas mais árduas do seu fazer profissional. Fazem uso de roteiros, eufemismos, mecanismos defensivos, enfatizam a gravidade clínica e informam progressivamente sobre o agravamento do quadro, para que a morte seja aguardada pela família e encaixada na rotina da emergência. Os signos e significados estão especialmente correlacionados ao paradigma biomédico, veem o fato como tabu e fracasso, enquanto as ações evidenciam a morte e a interação intersubjetiva como terreno obrigatório de emoções, que ocorrem escondidas pelo profissional. Os elementos apontados podem subsidiar intervenções, planejamento e gestão na atenção à saúde, no âmbito da educação, saúde do trabalhador e organização institucional.Abstract This study aimed to understand how physicians deal with the process of communicating death to relatives in an emergency hospital. It is a qualitative research, based on interpretive and medical anthropology. The data were collected in one of the largest public hospitals in Latin America, during nine months of participant observation. A total of 43 physicians were interviewed. The analysis was emic and guided by the model of signs, meanings and actions. Although death is a frequent event due to the seriousness of the cases being attended to, doctors perceive the experiences of the communication of death as one of the most arduous tasks of their professional practice. They use scripts, euphemisms, defensive mechanisms, emphasize clinical severity and progressively report on the worsening of the condition, so that death is expected by the family and embedded in the emergency routine. Signs and meanings are especially correlated to the biomedical paradigm, regarding it as taboo and failure, while actions evidence death and intersubjective interaction as a compulsory terrain of emotions, which occur hidden by the professional. The mentioned elements can subsidize interventions, planning and management in health care, in the field of education, workers’ health and institutional organization.

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