Comportamento, ecologia e reprodução de caranguejos ermitões (Crustacea, Decapoda, Anomura) no Sudeste brasileiro

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

O presente estudo foi realizado com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a história natural de espécies de caranguejos ermitões (Crustacea, Decapoda, Anomura) com ocorrência no sudeste brasileiro. Para tanto, experimentos foram realizados enfocando aspectos comportamentais, reprodutivos e da ecologia destes animais. Um estudo inicial sobre o período de atividade de algumas espécies (Clibanarius antillensis, C. sclopetarius, C. vittatus e Pagurus criniticornis) mostrou que o padrão de atividade varia entre espécies e pode ser regido por estímulos circadianos e circamereais, embora todas as espécies tenham apresentado alta atividade no período noturno. O comportamento reprodutivo destas espécies também foi avaliado e não revelou alterações marcantes frente a descrições prévias para as espécies, gêneros ou famílias estudados. Entretanto, demonstrou-se a existência de novos comportamentos bem como a possibilidade de indivíduos intersexo das três espécies de Clibanarius, com característica tanto de machos como de fêmeas, copularem com sucesso como machos. Estes indivíduos foram mantidos em laboratório para acompanhar o destino dos poros genitais e, com base em informações morfológicas, comportamentais e populacionais, foi elaborada uma discussão sobre uma eventual possibilidade de hermafroditismo sequencial protogínico em ermitões. Um estudo descritivo sobre o desenvolvimento embrionário destas espécies de ermitão revelou que o tamanho dos embriões e o tempo de duração do desenvolvimento varia entre espécies, bem como algumas características morfológicas como c1ivagem e momento do surgimento da mancha ocelar. No entanto, sete estágios puderam ser identificados com base em características morfológicas e três em função da duração relativa desses. A relação entre o tamanho de ermitões e conchas selecionadas revelou que eles utilizam conchas sub-ótimas na natureza e que nem o tipo de concha (arquitetura) nem a espécie de ermitão têm influência sobre as relações entre suas dimenções (exceto para medidas da abertura das conchas). A hipótese do modelamento, ou seja, do efeito da experiência prévia dos ermitões com determinados tipos de concha na forma e padrões futuros de seleção de concha, foi comprovada. Ermitões criados em conchas com abertura estreita tomam-se dorso-ventralmente achados e tendem a selecionar estas conchas com mais frequência que indivíduos mantidos em conchas com abertura arredondada. Também foi demonstrado o efeito da partilha de recursos nos padrões de utilização de conchas por duas espécies simpátricas de ermitões, C. antillensis e P. criniticornis, bem como a influência de diferentes estratégias competitivas (exploração e interferência) na dinâmica de troca de conchas entre elas. Demonstrou-se ainda que P. criniticornis é um bom explorador, apresentando grande capacidade de resposta a eventos simulados de predação de gastrópodes. Entretanto, esta espécie perde as conchas recentemente obtidas para C. antillensis, o qual o domina em brigas por conchas. Por fim, verificou-se que a predação de caramujos por caranguejos quebradores de conchas pode influenciar positivamente a disponibilidade de conchas e sua futura utilização por ermitões, mas que este efeito depende da espécie de concha (diferentes graus de proteção) e de predador (diferentes estratégias e habilidades de predação), do tamanho do predador e do tamanho da presa em relação ao predador

ASSUNTO(S)

conchas predação (biologia) embriologia

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