Comportamento e distribuição de bagres subterrâneos e epígeos, subfamília Copionodontinae Pinna, 1992 (Siluriformes, Trichomycteridae)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

06/06/2011

RESUMO

Dentre as 25 espécies de peixes subterrâneos brasileiros, duas coexistem em cavernas areníticas/quartizíticas da Chapada Diamantina, Bahia central: Glaphyropoma spinosum e uma nova espécie de Copionodon (Trichomycteridae: Copionodontinae). Trata-se do primeiro registro de bagres troglóbios neste tipo de feição, além de ser o segundo registro no Brasil de coexistência de peixes subterrâneos, configurando uma ótima oportunidade para estudos ecológico/evolutivos. Aqui são apresentados os estudos da distribuição e de vários aspectos do comportamento destes bagres, visando verificar se há diferenças relacionadas ao isolamento no meio subterrâneo. Os resultados foram comparados com seu parente epígeo Copionodon orthiocarinatus, sintópico (bacia do Paraguaçu). Para o estudo da distribuição geográfica foram realizadas coletas e inspeção visual do hábitat em rios epígeos e subterrâneos. Até o momento, os copionodontíneos subterrâneos foram registrados em sete cavernas/sistemas. Estima-se que novas localidades de ocorrência de bagres copionodontíneos ainda sejam descobertas, aumentando sua amplitude geográfica, que é relativamente restrita (24,75 km2). Estas espécies não estão efetivamente protegidas de impactos ambientais: somente uma rígida fiscalização ou planejamento das atividades desenvolvidas no Parque Nacional da Chapada Diamantina protegeriam de forma eficaz sua fauna subterrânea. O comportamento fototático foi analisado por meio do método de câmaras de escolha. Os copionodontíneos subterrâneos são mais fotonegativos que a espécie epígea; é possível que estes tenham se originado de um ancestral de atividade noturna. G. spinosum é fortemente fotonegativa, provavelmente percebendo estímulos luminosos pela pele. Copionodon sp. n. também apresentou fotofobia acentuada, porém com uma variabilidade intrapopulacional maior. Já a espécie epígea C. orthiocarinatus é levemente fotofóbica, e sua variabilidade intrapopulacional pode ser uma resposta ecológica à recente pressão de predação noturna, hipótese a ser testada. Para analisar o comportamento agonístico, indivíduos provenientes de diferentes aquários foram pareados de acordo com seu status hierárquico exibido anteriormente aos testes. Foram registradas e descritas 26 unidades comportamentais, das quais nove são inéditas na literatura. Ao contrário dos epígeos C. orthiocarinatus, os copionodontíneos subterrâneos apresentam comportamento agonístico mais complexo e agressivo, territorialidade e alta intolerância a coespecíficos. É possível que o comportamento agonístico destas espécies seja resultado da manutenção de um comportamento presente em seus ancestrais ou grupos-irmãos basais, ou mesmo de novas aquisições evolutivas. Já a alta tolerância a coespecíficos exibida por C. orthiocarinatus pode ser explicada pela abundância de alimento em seu ambiente ou mesmo a ausência de restrição espacial, freqüente em populações subterrâneas. Para estudar o comportamento espontâneo utilizou-se os métodos ad libitum (ambiente natural) e animal focal (em laboratório). Em laboratório cronometrou-se os seguintes componentes comportamentais: entocado, estacionário fora da toca, natação no fundo, coluna dágua, superfície e na parede do aquário. G. spinosum é fortemente criptobiótica, esta resposta pode ser reflexo do seu territorialismo acentuado. Copionodon sp. n. e a espécie epígea C. orthiocarinatus são bentônicas, com preferência por nadar no substrato (fundo + parede). As diferenças na ocupação do espaço exibidas por ambas as espécies troglóbias, aliadas ao fato de quase não exibirem comportamento agonístico entre elas, indica que estas espécies não ocupam o mesmo nicho. O comportamento alimentar foi estudado individualmente, cronometrando-se os tempos de alerta, procura, captura e ingestão do alimento que lhes era oferecido. Os epígeos se mostraram mais eficientes na procura do alimento em relação às espécies troglóbias, cuja baixa eficiência alimentar pode estar sendo influenciada pela abundância de alimento presente nas cavernas de Igatu, diferentemente do observado para cavernas em geral. Por fim, a reação a 2 estímulos mecânicos foi testada por meio de estímulos bruscos na superfície dágua, aplicados com uma haste vibratória. Todas as espécies apresentaram reações fóbicas acentuadas, como surtos natatórios ou tentativas de pular do aquário, que podem ser relacionadas com as fortes enchentes/enxurradas presentes tanto no ambiente cavernícola quanto superficial. Concluindo, G. spinosum é provavelmente uma espécie troglóbia antiga, devido à baixa variabilidade intrapopulacional morfológica e comportamental. Já Copionodon sp. n. apresentou maior variabilidade nestes quesitos. Duas hipóteses são propostas aqui no entendimento desta variabilidade: 1. Trata-se de uma população troglóbia recente, ou 2. Ainda há fluxo gênico (hibridização) entre a população que vive na caverna com a epígea, de modo que ainda não há isolamento genético entre estas populações. Por se tratar de um grupo basal, os estudos comportamentais e de distribuição dos copionodontíneos fornecem informações valiosas para uma melhor compreensão da história evolutiva dos copionodontíneos e suas relações de parentesco com outros clados de Trichomycteridae. Os dados também contribuirão para enriquecer descrição da nova espécie de Copionodon e para a efetiva proteção destas populações na região da Chapada Diamantina, a qual ainda sofre ameaças de garimpo clandestino e turismo descontrolado.

ASSUNTO(S)

ecologia ictiologia etologia peixe distribuição geográfica copionodontinae troglóbio glaphyropoma copionodon comportamento distribuição conservação

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