Comparação do perfil epidemiológico, clínico e dos resultados das intervenções coronárias percutâneas entre os gêneros masculino e feminino, na população brasileira: dados do Registro CENIC
AUTOR(ES)
Lopes, Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga, Barros, Marco Antonio De Vivo, Oliveira, Itamar Ribeiro de, Martins, Helman Campos, Paiva, Maria Sanali, Lima, João Alfredo Cunha, Maior, Gustavo Souto, Paiva, Hugo Diógenes de Oliveira, Mattos, Luiz Alberto, Marin-Neto, José Antonio
FONTE
Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva
DATA DE PUBLICAÇÃO
2008
RESUMO
FUNDAMENTOS: No cenário dos estudos controlados e randomizados, em mulheres, a doença arterial coronária (DAC) apresenta maiores desafios no que se refere ao diagnóstico e ao tratamento. Essas noções são mais controversas no âmbito do chamado "mundo real", especialmente no que tange ao tratamento por intervenção coronária percutânea (ICP). OBJETIVO: Comparar os resultados de procedimentos de ICP, na fase hospitalar, em brasileiras e brasileiros. MÉTODO: Análise retrospectivamente idealizada a partir dos dados inseridos no registro da Central Nacional de Intervenções Cardiovasculares (CENIC), em sua presente forma de captura eletrônica, conforme ficha padronizada, desde o início de 1999 até o final de 2007: características demográficas e da história clínica, inclusive fatores de risco no contexto da DAC; detalhes técnicos dos procedimentos, de seu sucesso e complicações; tratamento farmacológico adjunto. RESULTADOS: No período, 197.139 intervenções coronárias foram registradas, sendo 131.797 (66,85%) em homens e 65.342 (33,15%) em mulheres. A média de idade foi significativamente superior nas mulheres (64,0 ± 11,6 anos vs. 60,4 ± 11,7 anos; p < 0,0001), que apresentaram maior prevalência de diabetes melito (39,4% vs. 28,5%; p < 0,0001). Nos homens, houve maior prevalência de hipertensão arterial (25,6% vs. 28,9%; p < 0,0001), tabagismo (19,1% vs. 34,0%; p < 0,0001), antecedentes de infarto do miocárdio (21,1% vs. 26,8%; p < 0,0001), de ICP (17,5% vs. 19,3%; p < 0,0001) e de revascularização miocárdica cirúrgica prévia (8,3% vs. 11,0%; p < 0,0001). Em pacientes com ICP prévia, a nova intervenção ocorreu mais freqüentemente nos homens por progressão da doença, novas lesões (56,6% vs. 59,5%; p < 0,006), e, nas mulheres, por reestenose (39,2% vs. 36,4%; p < 0,0001). A ICP foi realizada nas mulheres em maior número de vezes que nos homens por indicações clínicas instáveis (56,5% vs. 55,8%; p = 0,003). Angiograficamente, verificou-se proporção maior de lesões de um único vaso entre as mulheres (53,2% vs. 49,3%; p < 0,0001), e menor prevalência de disfunção ventricular esquerda grave (4,1% vs. 4,6%; p < 0,0001), de lesões complexas (B2 e C) (64,3% vs. 66,0%; p < 0,0001), de trombo visível (14,6% vs. 17,6%; p < 0,0001), de lesões extensas (superiores a 20 mm) (26,6% vs. 28,1%; p < 0,0001) e de envolvimento de ramos secundários (26,6% vs. 27,6%; p < 0,0001). Em contraposição, nas mulheres observou-se mais calcificação (23,4% vs. 22,8%; p < 0,0001), e menor diâmetro (2,95 mm ± 0,66 mm vs. 3,04 mm ± 0,75 mm; p = 0,001) e extensão (17,2 mm ± 7,1 mm vs. 17,7 mm ± 7,3 mm; p = 0,04) dos stents implantados. As mulheres tenderam a ter taxa mais elevada de insucesso (0,75% vs. 0,68%; p = 0,077), e efetivamente apresentaram maiores taxas de óbito (1,20% vs. 0,79%; p < 0,0001) e de infartos miocárdicos nãofatais (0,54% vs. 0,41%; p < 0,0001). CONCLUSÕES: A ICP em mulheres brasileiras apresenta resultados imediatos discretamente menos satisfatórios que nos homens, em associação à tríade de idade mais avançada, maior prevalência de diabetes melito e menor calibre do vaso.
ASSUNTO(S)
angioplastia transluminal percutânea coronária angioplastia gênero e saúde fatores sexuais fatores de risco resultado de tratamento
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