Como devemos tratar a halitose?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

Halitose é uma condição do hálito na qual este se altera, de forma desagradável tanto para o paciente como para as pessoas com as quais ele se relaciona, podendo ou não significar uma condição patológica. É também conhecida como hálito fétido, fedor da boca, mau hálito ou mau odor oral. A halitose é uma queixa comum em adultos de ambos os sexos, de ocorrência mundial e apresenta uma etiologia multifatorial, mas seu principal fator causador é a decomposição da matéria orgânica, provocada por bactérias anaeróbias proteolíticas da cavidade oral.

Inicialmente, o médico deve ter em mente que a queixa de halitose é comum entre a população geral. No entanto, muitos pacientes confundem as diferenças entre halitose verdadeira e a sensação de “boca amarga”. Alguns pacientes procuram por tratamento devido à reclamação de parentes, amigos, e outros, por conta própria. O nível de confiabilidade da informação dada por amigos, parentes deve ser considerado. Além disso, existe a halitose fisiológica, a qual pode ser interpretada como doença, quando, na realidade, é normal. A halitose que a grande maioria das pessoas sente ao acordar é considerada halitose fisiológica, uma vez que desaparece após o ato de comer e escovar os dentes. Ela é considerada fisiológica por causa da diminuição do fluxo salivar e do aumento do processo de degradação dos restos celulares descamados na boca durante o período do sono, além do longo período de jejum que se dá durante a noite. Se essa halitose persistir após acordar, comer e escovar os dentes são necessárias mais investigações.

A cavidade oral é responsável por 90% dos casos de halitose, o trato respiratório é responsável por 8%, o trato gastrointestinal e outras causas diversas são responsáveis por apenas 2%. Como a boca é a principal fonte de halitose, torna-se essencial uma investigação especializada da cavidade oral/nasal. Infelizmente, nem todo dentista é capaz de fazer uma avaliação completa com relação às diversas causas da halitose. Quando o profissional não está focalizado na doença, algumas informações importantes podem ser perdidas. Algumas afecções mais leves, como por exemplo, gengivite, ou a presença de placa bacteriana, saburra lingual podem não ser detectadas numa avaliação dental não focalizada nas diversas causas da halitose.

As doenças da cavidade oral que podem causar halitose são, entre outras: cáries dentais; doenças periodontais, saburra lingual, processos endodônticos, ferida cirúrgica, impacção de alimentos nos espaços interproximais, próteses porosas ou mal-adaptadas, restaurações mal-adaptadas, cistos com fístula drenando para a cavidade bucal, ulcerações e necrose. A maioria desses fatores causa halitose devido à decomposição do tecido, putrefação de aminoácido e diminuição do fluxo salivar, condições essas que resultam na liberação de compostos sulfurados voláteis.

A halitose também pode ter origem nas estruturas constituintes das cavidades nasossinusais, da nasofaringe e orofaringe. As causas mais comuns de halitose relacionadas à otorrinolaringologia são: faringotonsilites virais ou bacterianas, abscessos retrofaríngeos, presença de criptas tonsilares profundas, de corpo estranho na cavidade nasal ou sinusal, rinossinusopatias agudas e crônicas. Essas alterações causam halitose, principalmente pela ação bacteriana que leva à putrefação dos tecidos e à produção dos compostos sulfurados voláteis (CSV). Os pacientes com problemas otorrinolaringológicos, geralmente, têm dificuldade de respirar pelo nariz e, muitas vezes, tornam-se respiradores bucais, o que provoca aumento da descamação da mucosa bucal, aumenta a viscosidade da saliva e se forma a saburra lingual, responsável pela produção de odorivetores presentes no ar expirado. As tonsilas palatinas contêm criptas que podem reter restos celulares, microrganismos, partículas estranhas, restos alimentares, formando o cáseo. A tonsila palatina, portanto, é um dos locais mais susceptíveis à atividade das bactérias anaeróbias proteolíticas no trato aéreo superior. A tonsilite crônica caseosa caracteriza-se pela formação e eliminação do cáseo e tem como queixa principal do paciente a halitose, além da sensação de desconforto, de corpo estranho na garganta, ou irritação frequente de garganta. Pode vir acompanhada de sintomas tais como hiperemia e hipertrofia das tonsilas palatinas, sem hipertermia.

As doenças gastrointestinais mais relacionadas à halitose são: doença do refluxo gastroesofágico, hérnia hiatal, divertículos e síndromes de má absorção. A esteatorreia ou outras síndromes de má absorção que provoquem excessiva flatulência são as causas de halitose mais importantes relacionadas às doenças gastrointestinais. A doença do refluxo gastroesofágico é uma disfunção do esfíncter gastroesofagiano inferior que permite o retorno do conteúdo ácido e não-ácido do estômago para o esôfago. Essa disfunção pode levar à destruição da mucosa esofagiana. A decomposição das células da mucosa por bactérias pode aumentar a produção dos compostos sulfurados voláteis, causando halitose. Além disso, algumas patologias do esfíncter esofagiano também podem causar halitose devido à putrefação de restos de alimentos estagnados no esôfago. A infecção por Helicobacter pylori foi associada ao mau hálito, porém ainda é controversa. Existem alguns estudos que correlacionam a infecção por H. pylori e halitometria alterada. H. pylori tem uma alta atividade de uréase que explica o aumento do pH e a diminuição da solubilidade de muitos odorivetores causadores do mau hálito. Esse fato não prova que o H. pylori causa halitose por si só.

A presença de coágulos ou pontos de sangramento em qualquer parte do sistema digestivo, seja por tumores, doenças inflamatórias ou parasitas, pode causar halitose devido à degradação do coágulo. A cirrose hepática caracteriza-se por danos irreversíveis no parênquima do fígado, resultando acúmulo de amônia. A amônia atinge os pulmões, é expirada, provocando um hálito característico. Geralmente, pacientes em encefalopatia hepática possuem hálito característico de amônia.

Disfunções renais são geralmente resultado de glomerulonefrites crônicas, as quais danificam a função glomerular, levando a um aumento do nível de ureia no sangue. O ar expirado é caracterizado como hálito de amônia e, geralmente, existe uma queixa associada de disgusia (alteração do paladar).

Diabete mellitus pode resultar no acúmulo de corpos cetônicos, os quais são expirados, produzindo um hálito adocicado muito característico. Além disso, a diabetes pode causar ressecamento da boca, aumentando a descamação celular e, consequentemente, aumentando a produção dos compostos sulfurados voláteis. A diabetes e outras situações de resistência à insulina também estão relacionadas com deficiências na secreção de fluidos corpóreos tais como lágrima e saliva, podendo ocorrer, portanto, xerostomia. Lesões tumorais em qualquer parte do corpo também podem produzir gases voláteis devido ao processo de necrose. Esses gases são expirados, provocando halitose, e essa é a razão pela qual a halitose pode indicar a presença de doenças graves.

O acompanhamento (longitudinalidade) de pacientes com problema de halitose é muito importante, pois ele deve ser avaliado e acompanhado até que seu problema seja diagnosticado e tratado.

A organização do cuidado também é um atributo muito importante da atenção primária à saúde (APS) nesta situação, pois caso seja necessário encaminhá-lo para especialistas focais para dar andamento à investigação diagnóstica, a equipe da APS deverá estar sempre atenta ao que está acontecendo com este usuário, ajudando-o nas questões necessárias.

ASSUNTO(S)

saúde bucal médico d20 sinais / sintomas da boca / língua / lábios halitose d - opinião desprovida de avaliação crítica/baseada em consensos/estudos fisiológicos/modelos animais

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