Comicidade e língua portuguesa na primeira metade do século XIX no Brasil

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

A tese que ora apresentamos está situada no âmbito da Historiografia Lingüística e tem por objetivo geral examinar a relação das marcas lingüísticas e históricas com a função social da comédia. Por sua vez, o objetivo específico é o de verificar, nas comédias de Martins Pena, marcas lingüísticas e históricas capazes de revelar não só aspectos sociais merecedores de punição pelo riso, mas também aspectos da língua e da história do Brasil na primeira metade do século XIX. O contexto histórico que envolve o Brasil nas primeiras décadas de 1800 é especialmente significativo para a compreensão das representações sociais em relação à língua e à identidade brasileira, uma vez que o país passa pelo processo de Independência política. Nesse sentido, torna-se um período que desperta o interesse de como se encontrava a língua em uso naquele momento - sobretudo, em relação ao português de Portugal - e o que, por meio dela, circulava socialmente. Nesse sentido, justifica essa pesquisa o desejo de compreensão dos fatores lingüísticos e históricos que marcavam a sociedade brasileira no momento da consecução de nossa autonomia política. Não poderíamos, pois, escolher como corpus textos ainda importados da Europa nem textos explicitamente filiados à cultura clássica, como os que circulavam pelo Brasil nos finais do século XVIII e início do XIX, a despeito do movimento romântico que começava a tomar corpo entre nós. Assim é que selecionamos as comédias de Martins Pena, a fim de examinar nelas a relação das marcas lingüísticas e históricas com a função social da comédia. Esse autor foi, em seu tempo, o que primeiro e o que mais escreveu sobre a realidade brasileira, valendo-se, para tanto, de uma linguagem coloquial representativa do português então em uso. A análise da língua representada nas comédias de Martins Pena pode ser capaz de confirmar nossas hipóteses, segundo as quais, na relação entre marcas lingüísticas e históricas, as comédias fazem mais do que revelar situações passíveis de punição pelo riso: elas se configuram como documentos capazes de trazer à luz a língua e a história do homem. Dessa maneira, a representação da língua presente nelas pode revelar em que medida o português em uso no Brasil se distancia da norma lusitana. Como nosso trabalho implica uma volta ao passado de nossa história e um posterior retorno ao nosso tempo presente, apoiamo-nos teoricamente nos fundamentos da Historiografia Lingüística, entendida como uma maneira, regida por princípios de escrever tanto a história do estudo da linguagem, quanto a de uma língua particular. Metodologicamente, a prática historiográfico-lingüística sugere a aplicação de três princípios: o da contextualização, o da imanência e o da adequação. Se pelo primeiro busca-se a compreensão dos fatores histórico-contextuais que envolvem um dado documento, pelo segundo, procura-se analisar o documento histórica e criticamente. Por sua vez, pelo princípio da adequação, pretende-se atualizar os resultados obtidos por meio da aplicação dos dois princípios anteriores. A análise historiográfico-lingüística dos textos de Martins Pena levou-nos a perceber que as marcas lingüísticas e históricas presentes neles ampliam a função social da comédia no sentido de torná-la um documento revelador do homem, de sua língua e sua história. Especificamente em relação aos aspectos lingüísticos, a análise levou-nos a perceberque o português em uso no Brasil, na primeira metadedo século XIX, não só apresenta pouco distanciamento da norma lusitana então vigente, como também traz diversas características de épocas remotas do português

ASSUNTO(S)

lingua portuguesa comedia pena, martins 1815-1848 -- critica e interpretacao riso na literatura linguistica -- historiografia

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