Cinetica da inversão de sexo em Synbranchus marmoratus (Teleostei, Synbranchiformes, Synbranchidae)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

Entre os peixes teleósteos, o gonocorismo ou dimorfismo sexual é uma característica dominante. Porém, hermafroditismo simultâneo, com maior ou menor grau de sincronia e inversão de sexo com maturação sequencial, sucessiva ou não, dos tecidos germinativos masculinos e femininos, e vice-versa, e/ou reversão de sexo são encontrados em várias espécies. A mudança de sexo nos indivíduos adultos envolve a degeneração do tecido gonadal do primeiro sexo e o crescimento e maturação do tecido do sexo oposto, em substituição ao anterior, passando por uma fase de intersexo. Synbranchus marmoratus, como a maioria dos Synbranchidae, é um peixe hermafrodita protogínico diândrico. Portanto, o estudo da cinética da reestruturação tecidual nesta espécie pode auxiliar na compreensão dos eventos biológicos característicos das gônadas transicionais dos teleósteos hermafroditas sequenciais. Neste contexto, procedeu-se à análise histológica e ultra-estrutural das gônadas do "mussum", S. marmoratus. Para tal, exemplares adultos de S. marmoratus foram capturados, com periodicidade quinzenal, no Rio Tietê, região de Penápolis, SP, BrasiL Uma vez retiradas, as suas gônadas foram fragmentadas, fixadas em solução de Karnovsky modificada (mínimo de 24h) e processadas conforme a metodologia da rotina de trabalho em microscopia fotônica e microscopia eletrônica de transmissão para análise morfológica geral e acompanhamento dos principais eventos que precedem e possibilitam a inversão de sexo, sem detrimento da reprodução, bem como, dispêndio energético. Histologicamente, as gônadas de fêmeas, intersexos, machos primários e secundários são semelhantes às de outras espécies teleósteas hermafroditas protogínicas. A morfologia e a ultra-estrutura padrão das células germinativas (masculinas e femininas), células somáticas e tecidos associados correspondem às descritas na literartura. As análises mostram que constituem evidências de inversão de sexo: a desorganização aparente da arquitetura histológica da gônada, devida ao aumento de tecido conjuntivo, com proliferação intensa de fibras e células; o surgimento de células germinativas masculinas imaturas (células basófilas), na periferia das lamelas ovígeras, em estruturas formadas pela invaginação de tecido conjuntivo, denominadas criptas, e grupos de células de Leydig, imersas no futuro interstício; hiperplasia da cápsula da gônada (tecido conjuntivo denso) e tecido muscular subjacente; vascularização intensa e surgimento de células mióides; alterações histológicas e celulares, sobretudo, processos de atresia, degeneração e morte; remoção e processamento dos restos celulares e teciduais da gônada do primeiro sexo e possível reciclagem de biomoléculas. Todos esses eventos podem envolver vários mecanismos, inclusive, a presença de granulócitos (especialmente melanomacrófagos), a intensa atividade macrofágica e a formação fisiológica de estruturas de deposição, degradação e possível reciclagem de materiais. Por conseguinte, a inversão sexual em S. marmoratus parece ser um processo fisiologicamente "racional" e bem sucedido, já que a ambissexualidade é considerada um caracter derivado, uma condição especializada documentada em diferentes grupos de peixes não-relacionados

ASSUNTO(S)

celulas mortas transexualismo teleosteos sexo (biologia)

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