Casamento, estupro ou dormindo com o inimigo? Interpretando imagens e representações dos sobreviventes de fusões e aquisições

AUTOR(ES)
FONTE

Organ. Soc.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2002-04

RESUMO

A retórica empresarial usual tende a retratar fusões e aquisições (FA) por meio de imagens fortemente idealizadas, divulgando tais processos como grandes feitos e incríveis vitórias. Entre outras imagens - como "a união faz a força", ou "o melhor dos dois mundos" - a projeção mais comum no discurso sobre FAs tem sido uma imagem fortemente idealizada de um "casamento perfeito" ou "feliz". O objetivo deste estudo é contribuir - através de um estudo empírico e de uma discussão teórica - para o entendimento da dinâmica interna de FAs, bem como explorar os complexos processos que podem ser reveladas pela imagem idealizada do "casamento feliz". O estudo empírico envolveu 56 casos de FAs no Brasil, e mais especificamente a análise de 120 desenhos que representavam tais processos, obtidos como parte das entrevistas com 128 empregados "sobreviventes" das empresas sob integração. Neste artigo, optamos por focar somente na análise dos 95 desenhos mostrando representações no nível de análise grupal, que estudamos usando os três pressupostos básicos que Bion (1975) sugere que grupos tendem a mostrar sobre si próprios: luta-fuga, dependência e acasalamento. Os resultados do estudo sugerem que, em processos de FA, (i) acontecem fortes lutas de poder entre os grupos envolvidos, em geral com riscos e perdas significativas para todos; e (ii) longe de constituírem "casamentos felizes", as uniões que decorrem destes processos mostram sinais de crueldade e dominação, onde as pessoas são em geral forçadas a interagir intimamente com aqueles que elas sempre aprenderam a odiar - competidores que eram, até recentemente, seus princiapis oponentes. Finalmente, nossos resultados sugerem que, enquanto as corporações discursam sobre casamentos derivados de FAs, as pessoas podem na verdade sentir-se forçadas a dormir com o inimigo.

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