Caracterização do repertório acústico do botocinza, sotalia guianensis, e impacto de embarcações no nordeste do brasil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A ampla distribuição na costa brasileira da espécie Sotalia guianensis tem feito crescer o interesse pelos pesquisadores sobre a ecologia dessa espécie, além de interesses comerciais através do turismo de observação. Esse trabalho descreveu o repertório acústico S. guianensis e suas associações comportamentais e ainda, verificou se ruídos subaquáticos de motores afetam o padrão desse repertório, na região de Pipa/RN. Foram analisadas 18:49h de gravações realizadas entre os meses de abril e junho de 2009. Foram encontrados 3258 assobios, 289 gritos, 873 sequências de estalos e nenhum registro de gargarejo. A faixa de frequência dos botos variaram de 1 a 48kHz, que pode estar relacionada com a taxa de amostragem de 96kHz e com a regionalização das populações. Essa faixa se sobrepõe as faixas utilizadas pelos ruídos produzidos por lanchas, escunas e uma bomba dágua. Nas associações comportamentos e acústica, o estado de deslocamento ocorreu em 72,58% com ausência de som e a socialização apresentou ausência (56,4%) e presença de sons (43,6%). Essa ausência de som pode estar relacionada com a economia de energia, visto que nesses comportamentos muitos eventos envolvem contatos físicos e visuais. A alimentação apresentou os maiores registros de todas as classes sonoras, com 46,84% de estalos, 33,84% de assobios e 9,02% de gritos. Todos os sons ocorreram com diferenças significativas dentro de cada estado comportamental (deslocamento: x2 = 134,35 df = 3 p = 0,0001; alimentação: x2 = 19,83 df = 3 p= 0,00018 e socialização x2 = 60,35 df = 3 p = 0,0001). Com relação aos ruídos, foi possível verificar que esses sons causam modificações na vocalização, com aumento considerável no número de assobios e redução dos estalos. Ocorre, também vii alterações de alguns parâmetros dos assobios (FI: t=2,42, p=0,015; FF: t= - 2,22, p=0,025), gritos (FMI: t= -3,13, p=0,001; FMA: t= -3,49, p=0,0005; FD: t= -2,21, p=0,027; D: t=2,89, p=0,004) e estalos (D: t= -3,85, p=0,0001; I: t= -5,32, p=0,0001) durante a presença desses sons. Essas modificações podem ser uma estratégia que essa população está desenvolvendo para vencer a barreira dos ruídos. Não se pode afirmar qual dos três ruídos analisados causa maior impacto, entretanto a bomba dágua parece afetar mais os estalos, aumentando os valores de seus parâmetros e a lancha parece afetar mais as outras classes sonoras. Pouco se sabe sobre a sensibilidade auditiva dessa espécie, mas exposições diárias aos ruídos podem trazer danos e essa espécie aparenta ter residência. Medidas para mitigação, como normas de controle das embarcações e educação ambiental são necessárias para a conservação da espécie, visto que a população já aparenta sofrer com danos como diminuição do tempo de permanência e número de indivíduos que entram na enseada, além da aparente diminuição da alimentação durante a presença de embarcações. Dessa forma, avança-se no conhecimento sobre a ecologia dessa espécie, principalmente quando se trata de bioacústica e suas associações comportamentais, além de revelar alguns dos impactos que os ruídos tem trazido para essa população

ASSUNTO(S)

repertório acústico comportamento embarcações ruídos sotalia guianensis pipa/rn psicobiologia bioacoustics behavior vessels underwater noise sotalia guianensis, pipa/rn

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