Caracterização de habitat e aspectos reprodutivos da ariranha (Pteronura brasiliensis, Zimmermann, 1780) no lago da Usina Hidrelétrica de Balbina, Amazonas, Brasil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

19/08/2011

RESUMO

A ariranha (Pteronura brasiliensis) é um animal social que vive em grupos familiares coesos e utiliza tocas cavadas nos barrancos de rios, lagos e igarapés, para dormir durante a noite e cuidar dos filhotes. Com o objetivo de caracterizar e descrever os ambientes utilizados na construção das tocas e conhecer aspectos reprodutivos da espécie no lago da UHE Balbina foram realizadas, entre setembro/2001 e maio/2010, 54 excursões de campo com um total de 164 tocas de ariranhas analisadas. As tocas foram classificadas pelo número de visitas e divididas em frequências de 40% (n=30) e 40% (n=134) de uso. Foram coletadas amostras de solos em frente às tocas, vegetação da área de entorno das tocas, ângulos de declividade dos barrancos, medidas de altura da entrada das tocas ao nível da água, transparência da água, dimensões e orientação da abertura das tocas, além de informações sobre o período reprodutivo, tamanho da prole e biometria dos filhotes de ariranhas. Os dados não apresentaram diferença significativa (p>0,05) quanto à frequência de uso das tocas pelas ariranhas, com exceção do ângulo de inclinação dos barrancos (p=0.0462; t=-2.0083; g.l=162) e altura da abertura das tocas ao nível da água nos períodos de seca e cheia (p=0.027; t=-2.4814; g.l=135). A análise granulométrica dos solos revelou que a argila foi à fração dominante em 50% dos solos analisados. O ângulo de azimute das aberturas das tocas variou entre 4 e 360, abrangendo todos os quadrantes de N até NO. A altura média das entradas das tocas ao nível da água foi de 1,98 m e a inclinação média dos barrancos na interface água/terra em frente às tocas foi de 53, (mín. 12 e máx. 88). A transparência média da água em frente às tocas variou de 1,33 m a 1,69 m, e a média das alturas e dos comprimentos das aberturas das tocas foi de 32 cm e 61 cm, respectivamente, sendo construídas em sua grande maioria (73%), em meio a raízes ou troncos da vegetação associada às margens dos cursos dágua. Cerca de 80% (n=28) dos registros de nascimentos ocorreu entre os meses de setembro e dezembro, caracterizados pelas estações de vazante e início de seca. O número de filhotes variou de 1 a 3 animais com peso e comprimento médio de 553 g e 36 cm, respectivamente. Os resultados obtidos sobre a caracterização dos ambientes utilizados por P.brasiliensis no reservatório de Balbina permitem uma melhor visualização do cenário onde a espécie ocorre, revelando que as ariranhas usam uma variada combinação de ambientes aquáticos e terrestres, utilizando barrancos com diferentes inclinações, cavando tocas em distintas alturas da água, com vários tamanhos de abertura, dimensões e conformações internas, distintos tipos de solo, com vários níveis de cobertura vegetal e transparências da água, e sem aparente predominância de ângulos de azimute da entrada das tocas. Os dados demonstram ainda um período reprodutivo bem predominante na região amazônica, independente do tipo de habitat ou interferência antrópica. É importante salientar que os resultados aqui apresentados não são requisitos obrigatórios para a ocorrência de P.brasiliensis, dada sua ampla capacidade de tolerância aos diferentes parâmetros ambientais, mas contribuem para a caracterização dos ambientes utilizados pelas ariranhas na construção de suas tocas e reprodução, analisando características e padrões de uso dos habitats que permitam identificar áreas de potencial uso em áreas represadas e, quando comparadas com ambientes naturais, auxiliarão na melhor compreensão das relações da espécie com seu meio ambiente.

ASSUNTO(S)

amazônia parâmetros ambientais reprodução reservatório tocas ariranha habitat pteronura brasiliensis reprodução zoologia

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