Características epidemiológicas da esquistossomose mansoni em áreas endêmicas rural e urbana de Minas Gerais

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

15/03/1994

RESUMO

Um estudo croos seccional foi realizado em duas localidades do estado de Minas Gerais para analisar a distribuição da esquistossomose mansoni em locais com características distintas. . Uma das áreas é rural, Água Branca de Minas-município de Comercinho, e a outra urbana, Bela Fama, um bairro de Nova Lima. Foi realizado exame parasitológico dc fezes, levantamento sócio-econômico e inquérito sobre contato com águas naturais das populações, objetivando descrever as características da esquistossomose mansoni nas duas localidades e também comparar, os fatores de risco para a infecção, visando avaliar as diferenças decorrentes do processo de urbanização em uma das localidades. Para avaliar se o aumento de sensibilidade do teste parasitológico de fezes influencia na análise dos fatores de risco, em uma das localidades foram efetuados até três exames e comparados os resultados obtidos com um e com três exames de fezes pe1o método Kato-Katz. O exame parasitológico de fezes e o levantamento sócio-econômico foram realizados por 95% (288/302) dos moradores de Água Branca e 98% (787/800) dos residentes em Bela Fama. O exame clínico foi realizado por 93% (281/302) e 86% (685/800) dos moradores de Água Branca de Minas e Bela Fama, respectivamente. Em Água Branca: a prevalência da infecção foi 38,8%; a média geométrica de ovos foi 117,8 ovos por grama de fezes, e 48% dos infectados eliminavam entre 12 e 99 ovos por grama de fezes; as faixas etárias de 10-14, 15-19 e 20-29 anos apresentaram as mais altas prevalências; a forma clínica intestinal foi identificada em 94 (87%), a hepatointestinal em 12 (11%), c hepatoesplênica em 2 (2%) dos indivíduos positivos. A média de idade foi 26 anos e 52% da população era composta de mulheres b) 93% nasceram na mesma localidade estudada; c) 94% viviam em casas de pior qualidade e 99% retiravam água do poço artesiano para atividades domésticas; d) 42% dos indivíduos pertenciam a famílias cujos chefes eram analfabetos; e) a atividade rural era exercida por 30% da população. Oitenta e oito por cento (235/267) relataram contatos com águas de córregos alguma vez na vida. Os motivos de contato relatados pela população foram: atravessar córrego (50%); buscar água ou lavar vasilha (45%); tomar banho (32%); lavar roupa (31%); nadar (22%); trabalhar na lavoura (17%); pescar (12%) e regar horta (6%). As freqüências diárias de contato foram relatadas por 116 indivíduos (43%); as semanais por 75 (28%); quinzenais por 17 (6%) e contatos mensais por 27 (11%), sendo significativamente maior entre homens. Todas as faixas etárias, exceto 0-9 anos, apresentaram-se associadas a infecção, sendo maior a força de associação na faixa etária de 20-29 anos, e a avaliação dos contatos com água demonstrou associação com o motivo de pesca. Após ajuste por regressão logística somente idade e história positiva de tratamento com esquistossomicida apresentaram-se associados à infecção. Em Bela Fama: a prevalência foi de 9,7%, sendo significativamente maior entre homens; a contagem de ovos entre 12 e 99 ovos por grama de fezes foi observada em 66% dos positivos e a média geométrica de ovos foi 62,3 ovos por grama de fezes. Oitenta e cinco por cento dos infectados apresentavam a forma clínica intestinal e 15% a forma hepatointestinal; as faixas etárias 15-19 e 20-29 anos concentraram as maiores taxas de prevalência e intensidade de infecção. A média de idade foi 24 anos e 51% eram mulheres b) 75% nasceram no município de Nova Lima; c) 31% viviam em casas de pior qualidade; d) 95% recebiam água encanada da rede geral ; e) 5% pertenciam a famílias cujos chefes eram analfabetos e f) 31% eram trabalhadores qualificados. Contatos com água foram relatados por 71% (473/665) das pessoas, sendo significativamente diferentes entre homens (78%) e mulheres (64%). Cento e noventa e dois (29%) negaram contatos. Os motivos relatados para os contatos foram nadar (42%); pescar (15%); atravessar córregos (8%); lavar roupas (6%), limpar encanamento (4%); cair no córrego (3%), trabalho na horta (2%), buscar água c/ou lavar vasilha, tomar banho e trabalhar na mineração (1% cada), Diferenças significativas também foram observadas entre homens e mulheres com relação à freqüência dos contatos. Cento e onze (16%) relataram contatos diários; 139 (21%) semanais; 22 (2%) quinzenais; e 201 (31%) contatos mensais. A análise univariada expressou associação da infecção com sexo masculino, faixas etárias entre 15 e 49 anos, ter sido tratado anteriormente com esquistossomicida, exercer trabalho qualificado e residir em casas de pior qualidade. Contatos com águas naturais para nadar semanalmente e pescar também associaram-se à infecção. A análise , multivariada demonstrou que as variáveis independentemente associadas à infecção foram idade (>= 10 anos), pescar diária e semanalmente, nadar semanalmente e residir em casa de pior qualidade. Para estudar a influência do aumento da sensibilidade do método Kato-Katz na avaliação dos fatores de risco para a infecção, foram utilizadas 653 (83%) pessoas dc Bela Fama que realizaram os três exames dc fezes. A prevalência com um exame foi dc 8,7% para 14,5% com três exames. A média geométrica de ovos passou de, 54,7 para 47,5 quando examinadas uma e três amostras de fezes respectivamente. As mesmas variáveis apresentaram-se associadas à infecção quando comparados o exame de uma amostra dc fezes com o de três amostras. Estas variáveis foram o sexo masculino, contato com águas naturais para pescar e nadar.

ASSUNTO(S)

esquistossomose epidemiologia teses.

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