Características clínicas e microbiológicas de cães em sepse de um hospital veterinário escola do norte do Paraná

AUTOR(ES)
FONTE

Pesq. Vet. Bras.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2020-11

RESUMO

RESUMO: A sepse é uma disfunção orgânica ameaçadora à vida, causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção e na medicina veterinária sua incidência exata é desconhecida. O reconhecimento precoce da sepse nos pacientes críticos é essencial para que a intervenção terapêutica seja rápida e eficaz. Assim, os objetivos do presente estudo foram aplicar os critérios de um protocolo de avaliação da sepse adaptado com base no Segundo Consenso Internacional para Sepse e Choque Séptico, ou Sepse-2, da medicina humana, em pacientes caninos com suspeita de infecção e/ou Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica e/ou disfunção orgânica e identificar os agentes infecciosos bem como seu perfil de resistência a antimicrobianos no foco de infecção, na corrente sanguínea e colonizando a mucosa retal. Os pacientes foram avaliados quanto à sobrevivência e severidade da sepse. Dos 37/42 cães que se enquadraram nos critérios de sepse, seis estavam em choque séptico, 26 (70,2%) apresentaram pelo menos dois sinais de SIRS, e a sepse com disfunção orgânica foi diagnosticada em 27 (73%) cães. As principais disfunções verificadas foram diminuição do nível de consciência em 21/37 (56,8%), hiperlactatemia em 19/37 (51,4%) e hipoalbuminemia em 18/37 (48,6%). A presença de dois ou mais sinais de SIRS associados com hipotensão e hipoalbuminemia estiveram relacionadas com mais da metade dos óbitos. O foco infeccioso mais frequente foi pele e partes moles em 20/37 (54%) seguido por órgãos e cavidades em 8/37 (21,6%). A taxa de sobrevivência foi de 56,7%. Na hemocultura confirmou-se bacteremia em nove pacientes (24,3%), com predominância de microrganismos gram-positivos (Staphylococcus intermedius, Streptococcus spp.) em 66,6% dos cães e uma levedura (Candida glabrata). As bactérias mais frequentes no foco de infecção foram as gram-negativas (46,2%) principalmente Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa, em 19,5%, 14,6% e 12,1% respectivamente. Foi constatada colonização por bactérias gram-negativas como E. coli-ESBL (31,5%), K. pneumoniae-ESBL (15,7%) e P. aeruginosa (15,7%), sendo que a colonização de cães por bactérias ESBL foi associada ao óbito quando comparada com outros microrganismos. Foram também isolados da mucosa retal Enterococcus resistentes à vancomicina (VRE) em quatro cães. Os microrganismos gram-negativos foram os mais frequentes, tanto nas infecções quanto nas colonizações e a maioria apresentava resistência à fluorquinolonas, sulfonamidas, tetraciclinas e cefalosporinas. Com base nestas informações, conclui-se que a mortalidade em decorrência da sepse em cães foi alta, e devido à presença de bactérias multirresistentes, o uso de antimicrobianos deve ser criterioso, sugerindo-se ainda a implantação das mesmas precauções utilizadas em hospitais humanos para evitar disseminação de microrganismos multirresistentes.

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