Capelas imperfeitas : o narrador na construção da literatura portuguesa do século XXI

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O narrador e a maneira como ele é construído dentro de uma obra literária é tema constante e recorrente dentro da teoria da literatura. A percepção de uma mão por trás da história contada, ou seja, um narrador que se assume deliberadamente autor de um relato é discutido por Wayne Booth, em A Retórica da Ficção. Booth apresenta, ao longo de um percurso da história da literatura, alguns narradores que possuem uma marca óbvia e evidente, assinalados por comentários e artifícios que não escondem a manufatura do trabalho literário. Em sua teorização, o crítico traz um conceito fundamental para a arquitetura deste trabalho: aquele que trata da confiança de um narrador. Mais tarde, Paul Ricoeur, no terceiro volume de Tempo e Narrativa, avança na discussão, assinalando a importância do narrador não-confiável na literatura contemporânea. A partir desses conceitos, Ricoeur afirma que a literatura atual exige um leitor que trabalhe dentro do texto. A essencial presença de um leitor, configurado na obra literária, norteia esta investigação. Como ponto de partida, este estudo percorre a tradição do narrador na literatura lusitana, desde Bernardim Ribeiro, passando por autores inventivos em sua construção narrativa, como Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Miguel Torga, José Cardoso Pires, Nuno Bragança, Augusto Abelaira, Lídia Jorge, entre outros. Neste sentido, é necessário que se conheça essa tradição para melhor compreender os artifícios utilizados por autores contemporâneos para rompê-la ou relê-la, objetivo primeiro desta tese. Por conseguinte, a obra Vícios e Virtudes, de Helder Macedo, serve como guia condutor, em diálogo constante com Fantasia para dois coronéis e uma piscina, de Mário de Carvalho. Juntas e além de suas intersecções, este trabalho investiga outras doze (As intermitências da morte, de José Saramago; Ontem não te vi em Babilônia, de António Lobo Antunes; Irene ou o contrato social, de Maria Velho da Costa; Rafael, de Manuel Alegre; A flor do sal, de Rosa Lobato de Faria; Canário, de Rodrigo Guedes de Carvalho; Amores secretos, de Yvette K. Centeno; O suplente, de Rui Zink; Vermelho, de Mafalda Ivo Cruz; Todos os dias, de Jorge Reis-Sá; A máquina do arcanjo, de Frederico Lourenço e Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto), que com as primeiras comungam de características típicas de um narrador desestabilizador, que atrai o leitor para dentro do texto e exige que ele o reconfigure.

ASSUNTO(S)

literatura portuguesa crítica literária imaginário literatura e história século xxi literatura contemporanea ficção narrativa historia da literatura tese

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