Brancas de almas negras? : beleza, racialização e cosmética na imprensa negra pós-emancipação (EUA, 1890-1930) / White women, black souls? : beauty, racialization and cosmetics in the post-emancipation black press (USA, 1890-1930)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

14/03/2012

RESUMO

Esta tese investiga as representações femininas presentes em propagandas de produtos de clareamento de pele (bleachings) e crescedores capilares (hair growers) da indústria cosmética, veiculadas pela imprensa afro-americana em Boston, Chicago e Nova York, cidades que, entre os anos 1890 e 1930, passaram por uma série de transformações sociais por conta do fenômeno historicamente conhecido como Grande Migração Negra. Ao considerar o processo de urbanização vivenciado pela população de cor que chegava aos milhares no norte do país, enfatizamos a emergência de um capitalismo negro que tinha no "mercado da beleza" um de seus principais ramos comerciais. Nesse sentido, o estudo do papel de "empresárias da raça" como Annie Minerva Pope Turnbo-Malone e Madam C. J. Walker, à luz das contribuições da Business History, leva-nos a lançar mão do conceito de "cosmética negra", entendida aqui como um conjunto de pequenas, médias e grandes empresas, que conduzidas com o capital e a força de trabalho afro-americanos, tinham como um de seus principais objetivos associar lucro financeiro e defesa da "feminilidade negra", a partir da confecção e venda de manufaturados que prometiam uma "boa aparência" para suas consumidoras. Ao explorar associações ambíguas entre good look e pele clara, a pesquisa também examina a construção de uma noção racializada de beleza específica dos negros num contexto de pós-emancipação. Diferentemente do ocorrido na publicidade da cosmetologia branca, tal noção mostra que companhias afro-americanas como a Poro Hair Beauty Culture, a Overton Hygienic Company e a Madam C. J. Walker Manufacturing Company investiram severos esforços na construção de referenciais visuais que conjugassem honra, distinção e equidade social para as "mulheres da raça". Dentro de uma perspectiva que articula gênero, racialização, classe, cosmética e modernidade, observa-se que ser considerada uma "nova mulher negra", como se dizia à época, não era um feito para todas. Para gozar de tal status era necessário possuir visual discreto, comportamento recatado, alto grau de instrução, mas, sobretudo, pele clara. Assim, ao atrelar físico e comportamento, o referido protótipo marcava a preocupação da comunidade intelectual (editores, jornalistas, publicitários, colunistas, artistas, etc.) em criar representações condizentes com uma noção de "feminilidade respeitada", que, por seu turno, revelava o investimento numa "cultura da pele mulata", facilmente captada pelas inúmeras fotografias de mulheres quase brancas, predominantes nas páginas de dezenas de jornais, revistas e catálogos de beleza da "raça". Nesse sentido, a cosmetologia e a imprensa negras foram duas das maiores responsáveis pela produção de uma "beleza cívica" oriunda de um sistema "colorista" calcado na valorização das mulatas em detrimento das blacks (negras retintas). Fato ainda desconhecido pela historiografia brasileira, tais propagandas descortinam formas múltiplas pelas quais as classes alta e média negras criaram suas próprias interpretações e soluções para questões relacionadas à eugenia, ao higienismo, à miscigenação, à urbanização e à segregação racial, abrindo espaço para futuras investigações sobre uma História Social da Beleza Negra.

ASSUNTO(S)

beleza feminina (estética) cosméticos emancipação racismo - estados unidos imprensa dos negros - história feminine beauty (aesthetics) cosmetics emancipation racism afro

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