Bocas, cancer e subjetividades : patografias em analise

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

A partir da narrativa da vida doente de pessoas com câncer de boca, buscou-se compreender como o adoecer se produz, as suas repercussões e as maneiras como os serviços de saúde lidam com elas. Utilizou-se a noção de patografia para construir as hestórias patográjicas, considerando a narrativa da vida doente em seus aspectos factuais e psíquicos. A boca foi tomada na expressão da bucalidade. Conceito relativo à dimensão civilizatória da propriedade daquilo que é bucal: a manducação, o erotismo e a linguagem. Os doentes foram compreendidos como sujeitos que também se produzem e são produzidos no adoecimento, encontrando novas regras de viver. Nesse sentido, trabalhou-se com o conceito de subjetividades a partir de formulações filosóficas da produção histórica de sujeito que se modulam e são modulados. As hestórias pato gráficas dizem respeito a cinco doentes entrevistados no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Complexo Hospitalar de Heliópolis, São Paulo/SP, lugar da realização da pesquisa, e a Sigmund Freud. A partir da análise dessas patografias e da observação de campo da pesquisa, destacaram-se alguns aspectos: - o entremeio do adoecer de câncer em que a morte é tematizada na condição trágica do humano e a vida como força pulsante de criação e de modulações subjetivas; o contraponto viver-morrer e as responsabilidades dos profissionais e doentes saberem lidar com questões como as da morte anunciada e as decisões sobre o morrer dignamente; do viver perigoso que se produz na vida pulsante; da bucalidade entre softimento e desejo. - A relação entre adoecimento e práticas de saúde para buscar encontros possíveis entre as polaridades objetivo/subjetivo, individual/coletivo. - A Clinica revisitada em que propomos a transversalização de saberes e práticas para exercitar uma Clínica de Acolhimento à dor e ao softimento, e também uma Clínica do Desvio que potencialize encontros de saberes e práticas po 1arizadas para interferir no interstício destas, produzindo e atendendo novas demandas de saúde. Ao se colocar em análise as práticas de saúde bucal na dificuldade de lidar com o adoecimento de câncer de boca, contextualizou-se o contemporâneo que fortalece o protesismo e reforça a "odontotécnica exclusiva" predominante na Clínica Odontológica. Para sair dessa exclusividade propõe-se, de dentro da odontotécnica, exercitar uma Clínica em Saúde Bucal a ser inventada, cotidianamente, articulando-se às práticas de Saúde Bucal Coletiva com a perspectiva de vir a se constituir uma biopolítica em favor da vida. Os resultados das análises apresentadas nos vários ensaios, que compõem os capítulos, apontam limites e possibilidades de se lidar com questões do processo saúde­doença, compreendendo-as na dimensão do humano

ASSUNTO(S)

narrativa saude publica - aspectos antropologicos saude bucal

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