Biopolíticas de inclusão social e produção de maternidades e paternidades para uma 'infância melhor'

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta tese analisa uma política voltada para a promoção de uma “Primeira Infância Melhor” (PIM), do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, para discutir como ela, ao atuar como uma instância pedagógica se propõe a enunciar educar e regular mulheres e homens como sujeitos de gênero, no sentido de governar e instituir formas de exercer a maternidade e a paternidade. Utilizo os aportes dos Estudos de Gênero e Culturais, em aproximação com a perspectiva pós-estruturalista, principalmente da análise do discurso, de inspiração foucaultiana. O material empírico da tese foi produzido em um trabalho de campo de caráter etnográfico, por meio do cruzamento de informações de diferentes fontes: (i) documentos oficiais referentes ao PIM; (ii) atividades que integram o PIM, conforme registradas em diário de campo; (iii) entrevistas com técnicos/as, visitadoras e mulheres-mães participantes. Ao assumir o pressuposto de que a linguagem é produtora das práticas sociais, tornou-se importante descrever e explorar: (i) a metodologia do PIM, anunciada tanto em seus documentos quanto através da materialidade expressa por meio de falas, conselhos, ensinamentos de educação e(m) saúde e atividades protagonizadas pelos/as técnicos/as e visitadoras, dirigidos às mulheres e crianças; (ii) o que as famílias, sobretudo através das mulheres-mães, precisavam aprender a fim de melhor cuidar e conduzir a infância; (iii) as aproximações produzidas entre a prática do cuidado materno e as propostas de educação e(m) saúde voltadas à infância. Com o propósito de visibilizar os argumentos que investem numa politização contemporânea da maternidade e apreender como o gênero funciona para organizar, a partir de um conjunto de significados e símbolos construídos, relações sociais de poder, analiso a articulação de fragmentos discursivos provenientes da puericultura, das políticas maternalistas, da psicologia do desenvolvimento, da economia e da neurociência, cujo objetivo era embasar e formular os ensinamentos e orientações dirigidas às famílias, principalmente às mulheres-mães. As análises permitem dizer que as formas de “educar” e de atingir os objetivos formulados, por meio do PIM, operam no sentido de posicionar os/as técnicos/as, as mulheres-visitadoras e as mulheres-mães de diferentes modos. Nesse contexto, o posicionamento das mulheres-mães decorre da necessidade de o Estado, num cenário de pobreza e vulnerabilidade social, politizar a maternidade por meio da adequação a uma extensa pedagogia, co-responsabilizando as mulheres-mães pelo cumprimento de funções relativas à saúde e à educação das crianças.

ASSUNTO(S)

gender gênero maternidade motherhood fatherhood paternidade bio-politics biopolítica políticas públicas public policies programa “primeira infância melhor”

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