Biologia da reprodução de Trema micrantha (L.) Blume (Ulmaceae)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1996

RESUMO

Trema micrantha (L.) Blume (Ulmaceae) é uma árvore pioneira, que se distribui desde o sul dos Estados Unidos da América até a Argentina. Ocorre com freqüência nas fases iniciais da sucessão secundária das áreas desflorestadas do estado de São Paulo, geralmente em populações agregadas. Foram estudados vários aspectos da biologia da reprodução desta espécie, em duas populações naturais no município de Campinas (SP, Brasil) - uma na Reserva Municipal da Mata Santa Genebra (22º 49 45" S e 47º 06 33" W) e a outra, na mata Santa Elisa (220 55 S e 470 05 W). Foram feitas amostragens mensais da produção de flores de 27 árvores da mata Santa Genebra, durante 36 meses consecutivos. Na mata Santa Elisa foram acompanhadas 36 árvores e a amostragem mensal foi realizada durante 12 meses. Nesta última população também foram feitos testes para se verificar o modo de reprodução e coletas de sementes para testes de germinação. Observou-se que T. micrantha produz três tipos de flores: femininas, masculinas e hermafroditas, estas protogínicas, raras e esporádicas. Embora mortologicamente hermafroditas, várias destas flores eram funcionalmente masculinas, pois o ovário não continha óvulo. O acompanhamento da produção de flores permitiu identificar quatro fenótipos sexuais nas duas populações: 1) plantas femininas constantes, que só produzem flores femininas; 2) plantas femininas preferenciais, que produzem flores femininas e, às vezes, também flores masculinas em pequena proporção; 3) plantas masculinas preferenciais, que produzem flores masculinas e, de vez em quando, também flores femininas em taxas pequenas e 4) plantas hermafroditas crípticas, que iniciam a estação reprodutiva como masculinas ou monóicas e depois passam a preferencial ou totalmente femininas. As flores hermafroditas geralmente ocorrem nestas plantas hermafroditas crípticas. A proporção relativa dos quatro mortos sexuais foi equivalente nas duas populações, ou seja, as plantas femininas constantes constituíram 53 a 60% dos indivíduos e as hermafroditas crípticas, cerca de 36%. As plantas masculinas ou femininas preferenciais foram raras, com apenas um ou dois indivíduos de cada categoria, em cada uma das populações estudadas. A mudança sexual das plantas hermafroditas crípticas ocorreu geralmente no início da primavera (outubro), porém de forma assincrônica. Não foi possível estabelecer correlações claras entre os fatores climáticos e a expressão sexual das plantas hermafroditas crípticas, mas as temperaturas mínimas mostraram certa correlação com a mudança sexual observada nestas plantas. O exame de material herborizado mostrou um padrão de produção de flores masculinas e femininas ao longo do ano que é semelhante ao observado nas populações naturais estudadas, indicando que este comportamento reprodutivo pode ser característico da espécie como um todo. Não foram observadas diferenças significativas no tamanho inicial, na taxa de crescimento ou na sobrevivência entre as plantas femininas constantes e. as hermafroditas crípticas. As observações de campo sugerem que a espécie seja anemófila, uma condição comum entre as Ulmaceae. A análise dos grãos de pólen indicaram alta viabilidade (>79,7%) e grande produção de grãos por flor (ca. de 110.800). Os testes de cruzamento indicaram que T. micrantha é uma espécie xenógama facultativa, podendo se reproduzir através de fecundação cruzada nas plantas femininas constantes ou de auto-fecundação, nas plantas hermafroditas crípticas durante a sua fase monóica. Também houve evidência de que pode ocorrer agamospermia, porém em proporção muito baixa, sendo necessários mais testes para a sua confirmação. Os testes com as sementes indicaram que a porcentagem de germinação é maior para as sementes dos frutos maduros (em relação às dos frutos verdes totalmente desenvolvidos), em tratamento de embebição em água destilada e sob temperaturas alternadas. Também observou-se que as sementes provenientes das plantas femininas constantes germinaram significativamente mais do que as das hermafroditas crípticas. São necessários mais testes, para se verificar se estes resultados são devidos à viabilidade ou à dormência diferencial das sementes das duas formas sexuais. Levantamento bibliográfico sobre o sistema de reprodução de outras espécies da família, para as regiões tropical e sub tropical do continente americano, indicou que a andromonoicia é a condição predominante, principalmente entre os gêneros com o maior número de espécies. Os resultados obtidos para T. micrantha são inéditos para espécies arbóreas neotropicais e de difícil comparação, devido à falta de trabalhos que abordem a sexualidade das plantas de forma quantitativa. Outra dificuldade adicional é a falta de uma terminologia uniforme que descreva estes fenômenos. É recomendável, portanto, um esforço para se uniformizar a terminologia e a metodologia de coleta de dados, em estudos de longo prazo e em populações naturais, pois é provável que o tipo de variação da expressão sexual observada neste estudo seja mais comum do que geralmente se reconhece

ASSUNTO(S)

arvore angiosperma reprodução sucessão ecologica

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