Biologia da conservação da reófita Dyckia brevifolia Baker (Bromeliaceae), Rio Itajaí-Açu, SC

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A ocorrência de espécies reófitas está vinculada à presença de corredeiras nos rios. Devido à perda destes hábitats, principalmente pela construção de represas, e a inexistência de estudos com reófitas, a geração de dados é imprescindível para dar embasamento à conservação deste grupo. Assim, o presente estudo objetivou gerar informações sobre a reófita Dyckia brevifolia Baker (Bromeliaceae), bem como propor estratégias para sua conservação. A determinação da distribuição geográfica da espécie foi feita por meio de caminhamento ao longo das margens do Rio Itajaí-Açu, Santa Catarina, Brasil. Para caracterizar sua estrutura demográfica foi realizado um censo em 12 locais, onde as rosetas foram classificadas quanto ao seu estádio de desenvolvimento (plântulas, imaturas ou reprodutivas). As rosetas também foram classificadas em isoladas ou agrupadas. Em cinco locais foi avaliada a emissão clonal e a mortalidade de indivíduos, exceto plântulas. Para caracterizar o sistema reprodutivo foram conduzidos cinco tratamentos: agamospermia, autopolinização espontânea, autopolinização manual, polinização cruzada e controle. As características florais, a produção de néctar e os visitantes florais também foram estudados. A caracterização da diversidade genética (oito populações) e da taxa de cruzamento (quatro populações) foi feita através de marcadores alozímicos. A extensão de ocorrência de D. brevifolia corresponde a cerca de 80 km ao longo do Rio Itajaí-Açu, desde Lontras até Blumenau. Porém, as populações são disjuntas e nos 12 locais estudados sua área de ocupação correspondeu a menos de um hectare, o que se deve a alta seletividade ambiental apresentada pela espécie. O número de rosetas por local variou de 204 a 7.185, havendo uma correlação positiva entre a área ocupada pela espécie e o número total de rosetas (r = 0,82; p<0,05). A densidade média encontrada foi de 3,5 rosetas por m2 (s 1,9). Apenas 2,4% das rosetas ocorreram isoladas e 97,6% ocorreram agrupadas, em 2.254 grupos. Nos 12 locais avaliados foram registradas 30.443 rosetas, destas 1.789 (5,9%) eram plântulas, 24.426 (80,2%) eram imaturas e 4.228 (13,9%) eram reprodutivas. A taxa média de mortalidade foi de 5,3%. As plântulas corresponderam, em média, a 3,7% dos indivíduos, enquanto os clones a 6%. A propagação vegetativa foi considerada a principal forma de recrutamento. Cada inflorescência apresentou, em média, 60,4 flores (s 14,5; n = 30) e 58,3 frutos (s 13,3; n = 30), sendo a relação fruto/flor de 0,97. O número médio de sementes por fruto foi de 129,6 (s 24,3; n = 90). A abertura das flores ocorreu no sentido da base para o ápice da inflorescência e o número de flores abertas/dia por inflorescência foi, em média, de 6,8 (s 1,2; n = 30). Suas flores apresentaram antese ao longo do dia e duração de um dia e meio. Com relação ao sistema reprodutivo, os resultados indicaram que D. brevifolia é autocompatível e que a agamospermia pode ocorrer. O volume e a concentração médios do néctar (n = 30) foram de 30,5l e de 25,7%, respectivamente. O beija-flor Amazilia versicolor Vieillot e as abelhas Xylocopa brasilianorum Linnaeus e Bombus spp. foram considerados os principais polinizadores de D. brevifolia. A taxa de cruzamento foi de 8,2%, indicando que a espécie é predominantemente autógama. Com relação à diversidade genética, as populações apresentaram, em média, 1,4 alelos por loco, 27% de polimorfismo e heterozigosidade esperada foi de 0,067, em 13 locos analisados. O valores médios encontrados para a relação e para a diversidade genotípica foram de 0,22 e 0,612, respectivamente. As populações a jusante no Rio Itajaí-Açu apresentaram os maiores índices de diversidade, o que foi atribuído à hidrocoria visto que o rio apresenta fluxo unidirecional. Grande parte da diversidade genética está distribuída entre suas populações ( =0,376) e a espécie apresenta, ainda, alelos raros e exclusivos. Com a construção da represa da Hidrelétrica Salto Pilões, Lontras, algumas populações poderão ser atingidas, sendo recomendada a conservação ex situ. Desta forma, no percurso de ocorrência da reófita D. brevifolia, a instalação de outras hidrelétricas não é recomendada, pois poderia inviabilizar a conservação in situ desta espécie.

ASSUNTO(S)

bromeliacea recursos genéticos vegetais plantas - reprodução isoenzimas botanica

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