Balanço hídrico em um remanescente de Mata Atlântica da Serra da Mantiqueira, MG

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

02/12/2011

RESUMO

A Mata Atlântica consiste de um ecossistema ameaçado de extinção no Brasil. Sua distribuição no território brasileiro praticamente se restringe a remanescentes em áreas de montanhas e cabeceiras de bacias hidrográficas, como a serra da Mantiqueira, que corresponde à principal região produtora de água do sudeste do Brasil. Apesar da importância deste bioma no contexto ambiental, são praticamente inexistentes estudos de balanço hídrico no mesmo, principalmente em áreas de montanhas. Neste contexto, a descrição da dinâmica da água e sua interação nas etapas do ciclo hidrológico são essenciais para a determinação do balanço hídrico, devido à sua relevante participação nos processos hidrológicos e à sua variação espaço-temporal em função de fatores edáficos, topográficos, climáticos e de vegetação. Nesse sentido, objetivou-se, neste trabalho, analisar os componentes do balanço hídrico e suas inter-relações numa microbacia hidrográfica inteiramente ocupada por um remanescente de Mata Atlântica (MBMA), localizada na bacia hidrográfica do ribeirão Lavrinha (BHRL), na serra da Mantiqueira, com área de 16 ha, ao longo dos anos hidrológicos de 2009/2010 e 2010/2011; analisar a partição da precipitação pluvial, correlacionando-a com a evolução sazonal dos ecossistemas da Mata Atlântica, identificada pela aplicação das diferenças dos índices de vegetação por diferença normalizada (IVDN) e analisar a estabilidade temporal do conteúdo de água na camada superficial do solo (0-0,20 m de profundidade), sob diferentes usos do solo, na BHRL, nos períodos seco e chuvoso, estimando os pontos mais representativos para essa determinação. De acordo com os resultados do balanço hídrico conduzido na MBMA, verificou-se que a evapotranspiração correspondeu, em média, a 47,7% do total precipitado e a interceptação, a 22,7%. O deflúvio total correspondeu a 35% da precipitação, tendo a participação do deflúvio subterrâneo neste sido de 75,82%, porém, com variabilidade intra-anual importante. A variação do armazenamento de água na MBMA foi positiva em ambos os anos hidrológicos, contudo, com destaque para o ano 2010/2011, com um saldo de 1,516 mm/dia, fruto do armazenamento na zona saturada. Os resultados demonstraram que, durante períodos nos quais o regime pluvial está próximo ou é superior às condições normais, a Mata Atlântica desempenha papel fundamental na produção de água, atenuando o escoamento superficial direto e promovendo melhores condições hidrológicas do solo para infiltração. Contudo, há indicativos de que, quando uma situação climática atípica ocorre, com prolongamento do período seco, há um aumento considerável da transpiração das plantas, com consequente redução do deflúvio subterrâneo pela influência destas no estoque de água armazenada na microbacia para suprimento de suas demandas ecofisiológicas. Com relação à análise da partição da precipitação pluvial na MBMA, constatou-se que não houve correlação positiva entre a capacidade de armazenamento de água do dossel da Mata Atlântica com a regeneração vegetal sinalizada pelas diferenças do índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN). Observou-se também maior percentual da precipitação interna da Mata Atlântica em períodos com menor taxa de precipitação, com maior variabilidade espacial da precipitação interna em períodos com maiores totais precipitados. Além disso, notou-se que a técnica de co-krigagem, utilizando os valores de IVDN como variável secundária, apresentou melhores resultados no estudo da distribuição espacial da precipitação interna na condição de Mata Atlântica. Os resultados do estudo do conteúdo de água superficial do solo mostraram que houve maior estabilidade temporal na área de vegetação de várzea, menor na área ocupada por Mata Atlântica e intermediária na área de pastagem. Os resultados apresentaram variações significativas da diferença relativa média entre os períodos de medição, concluindo-se que as características de cada área devem ser consideradas particularmente para escolha dos pontos. Na área de pastagem, identificou-se apenas um ponto para monitoramento, tanto para o período chuvoso quanto para o seco. Nas áreas de Mata Atlântica e vegetação de várzea foram identificados dois pontos, sendo um especificamente para o período chuvoso e outro para o período de estiagem, sendo recomendada uma análise individual específica para cada estação.

ASSUNTO(S)

variação espaço-temporal dos processos hidrológicos hidrologia florestal ecossistemas florestais gestão dos recursos hídricos monitoramento de bacias hidrográficas engenharia agricola spatial-temporal variability of hydrological processes forst hydrology forest ecosystems water resources management watershed monitoring

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