Avaliação dos efeitos cardiovasculares e renais do imatinibe

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

15/03/2011

RESUMO

A introdução do mesilato de imatinibe revolucionou o manejo da leucemia mielóide crônica (LMC) e do tumor do estroma gastrointestinal (GIST) avançado. Além de ser mais eficaz em reduzir a progressão da doença e aumentar o tempo de sobrevida, está associado a menor incidência de efeitos adversos quando comparado à quimioterapia tradicional. O perfil de segurança da droga tem sido questionado por evidências de cardiotoxicidade e nefrotoxicidade relacionadas ao tratamento. Os objetivos desta tese foram, por meio de três estudos, avaliar os efeitos cardiovasculares do imatinibe em pacientes com LMC em uso prolongado da medicação, usando métodos sensíveis de avaliação da função ventricular esquerda; investigar a relação entre dose e duração do tratamento com imatinibe com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e o BNP; avaliar a incidência de injúria renal aguda e insuficiência renal crônica (IRC) em pacientes com LMC em uso de imatinibe; investigar a relação entre a duração do tratamento com imatinibe e a redução do ritmo de filtração glomerular (RFG) estimado. O recrutamento dos pacientes foi realizado no Ambulatório de Doenças Mieloproliferativas Crônicas do Serviço de Hematologia do HCUFMG. No primeiro estudo, 12 pacientes (idade mediana 40 [IQ 28-48] anos, variando de 25 a 67 anos) foram submetidos a uma avaliação cardiológica antes do início do tratamento com imatinibe e após um tempo mediano de 12,4 meses. Não foram observadas alterações significativas na freqüência de sinais e sintomas cardiovasculares, anormalidades eletrocardiográficas, medidas ecocardiográficas e níveis de BNP. A fração de ejeção mediana foi 67% na linha de base e 68% no exame de acompanhamento (alteração mediana intra-paciente 0,5%). Os níveis medianos de BNP foram 8,3 versus 7,3 pg/mL (alteração mediana intra-paciente 0,2 pg/mL). As medidas de troponina I permaneceram abaixo do limite inferior de detecção e as medidas do strain miocárdico foram similares ao controle sadio. O segundo estudo incluiu 90 pacientes (idade 49 ± 15 anos) em uso de imatinibe durante um tempo mediano de 3,3 anos. A fração de ejeção média foi 68 ± 7% e a mediana dos níveis de BNP foi 9,6 pg/mL (IQR 5,7-17,0 pg/mL). Dois pacientes apresentaram BNP elevado ou fração de ejeção reduzida (2,2% 90% IC 0,9-6,8%) e dois pacientes apresentaram níveis séricos de troponina I acima do limite de detecção. Medidas do strain miocárdico longitudinal foram semelhantes a medidas no controle sadio. Foi observada uma relação fraca da dose e duração do tratamento com imatinibe com o log BNP. Não houve relação destas variáveis com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo. O terceiro estudo incluiu 105 pacientes (idade 45 ± 15 anos) em uso de imatinibe durante um tempo mediano de 4,5 anos. Durante o acompanhamento, 7% dos pacientes desenvolveram injúria renal aguda; os níveis de creatinina retornaram ao basal em apenas um paciente. De acordo com a equação de regressão, a valor médio do RFG estimado na linha de base foi 88,9 mL/min/1.73m2. O RFG estimado apresentou redução significativa com a duração do tratamento com imatinibe; a redução média por ano foi 2,77 mL/min/1.73m2 (p<0,001); 12% dos pacientes desenvolveram IRC. Não foi observada relação significativa entre idade, hipertensão, história de IRC na linha de base ou uso prévio de interferon com a redução média do RFG estimado. Concluindo, a cardiotoxicidade é um evento incomum, mesmo após o tratamento prolongado. A relevância clínica e a real necessidade do monitoramento cardiovascular de todos os pacientes são questionáveis. Por outro lado, a introdução da terapia com imatinibe em pacientes com LMC não incluídos em ensaios clínicos está associada à injúria renal aguda potencialmente irreversível, e o tratamento prolongado pode causar uma redução clinicamente relevante do RFG estimado. Assim, é importante monitorar a função renal de pacientes com LMC em uso de imatinibe através da medida da creatinina sérica e cálculo do RFG estimado, e se evitar a administração concomitante de agentes potencialmente nefrotóxicos. Além disso, é imperativa a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.

ASSUNTO(S)

leucemia mielogênica crônica bcr-abl positiva  decs síndromes mielodisplásicas  decs resistência a medicamentos antineoplásicos decs proteínas tirosina quinases/efeitos adversos  decs toxicidade de drogas decs hipertensão/induzido quimicamente decs insuficiência renal/induzido quimicamente decs ecocardiografia decs mesilatos decs dissertações acadêmicas decs dissertação da faculdade de medicina da ufmg.

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