Avaliação do risco de exposição de frangos de corte e galinhas poedeiras à contaminação natural por fumonisinas e aflatoxinas

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

18/08/2011

RESUMO

O Brasil é o terceiro produtor mundial de aves e o líder em exportações. No entanto, a contaminação de milho e rações por micotoxinas pode acarretar grandes perdas econômicas à indústria avícola. As micotoxinas estão associadas a problemas de saúde humana e animal e, ao serem metabolizadas pelos animais podem ocorrer em carne, ovos e leite. Dentre elas, destacam-se as aflatoxinas, devido à elevada toxicidade e as fumonisinas, por serem as micotoxinas de maior ocorrência em milho e derivados. Portanto, é necessário o desenvolvimento de métodos sensíveis e rápidos de detecção de micotoxinas, visando o controle de qualidade dos produtos destinados ao consumo humano e animal. Os métodos imunoenzimáticos como os enzyme-linked immunosorbent assays (ELISAs) destacam-se por serem rápidos, específicos e permitirem a análise de várias amostras por ensaio. Entretanto, no Brasil, há a dependência de importação de kits de ELISA comerciais. Assim, investimentos na produção de imunoreagentes constituem uma alternativa para redução de tempo e custos. Este estudo teve como objetivos padronizar e validar intra-laboriatorialmente um ELISA competitivo indireto (ic-ELISA) para detecção de aflatoxinas em rações destinadas a aves, assim como avaliar o risco de exposição de frangos de corte e galinhas poedeiras a fumonisinas e aflatoxinas. Um ic-ELISA baseado em anticorpo monoclonal anti-aflatoxina B1 (AcM anti-AFB1) foi padronizado, validado e seu desempenho foi comparado com a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e kit de ELISA comercial. O ic-ELISA apresentou linearidade adequada (R2 = 0,994) e limites de detecção e quantificação de, respectivamente, 1,25 e 1,43 ng g-1 (ração para frangos de corte) e de 1,41 e 1,75 ng g-1 (ração para galinhas poedeiras). Os parâmetros de repetibilidade e precisão intermediária apresentaram desvios padrão relativos médios menores que os recomendados pela Commission of the European Communities (CEC), os quais foram de 8,03% e 11,58% (ração para frangos de corte) e 6,94% e 12,49% (ração para galinhas poedeiras). Quanto à exatidão, as taxas de recuperação de aflatoxinas variaram de 90% a 107% (ração para frangos de corte) e de 98% a 103% (ração para galinhas poedeiras) situando-se entre os valores recomendados pela CEC. A análise por CLAE, ic-ELISA e ELISA comercial detectou aflatoxinas em 88,2%, 88,2% e 100% das amostras de ração para frangos de corte (n = 34) e em 92%, 92% e 97,2% das amostras de ração para galinhas poedeiras (n = 36). Os coeficientes de correlação linear entre CLAE-ic-ELISA foram de 0,97 e 0,98; entre CLAE-ELISA comercial de 0,76 e 0,93; e entre ELISA comercial-ic-ELISA de 0,82 e 0,95, considerando as análises de ração de frangos de corte e de galinhas poedeiras, respectivamente. A maioria das rações destinadas a frangos de corte (52,9%) e a galinhas poedeiras (61,1%) apresentou razões ic-ELISA/CLAE entre 0,81 e 1,8. Paralelamente, foram avaliados a contaminação fúngica e os níveis de fumonisinas (FB1 + FB2) e aflatoxinas em quatro tipos de rações (pré-inicial, inicial, engorda e abate) destinadas a frangos de corte (n = 158) coletadas em uma granja comercial na região norte do Estado do Paraná e em rações destinadas a galinhas poedeiras (n = 98) coletadas na granja experimental da Universidade Estadual de Londrina, nos períodos de junho a agosto e de janeiro a dezembro de 2010, respectivamente. A determinação da contaminação fúngica foi realizada pelo método “Pour plate” empregando Ágar Batata Dextrose (BDA), enquanto que os níveis de fumonisinas e aflatoxinas foram determinados por CLAE e por ic-ELISA, respectivamente. Aspergillus spp. e Penicillium spp. foram os gêneros de maior prevalência (97 a 100%) nos quatro tipos de ração destinadas a frangos de corte, enquanto Fusarium spp. foi detectado em menores frequencias que variaram de 11% para ração pré-inicial a 30,3% para ração de abate. FB1 e FB2 foram detectadas em 100% das amostras de ração pré-inicial (médias de 0,41 e 0,27 µg g-1) e inicial (médias de 0,45 e 0,16 µg g-1); em 91,9% (média = 0,48 µg g-1) e 81,1% (média = 0,23 µg g-1) nas amostras de ração de engorda e em 91% (média = 0,40 µg g-1) e 45,5% (média = 0,23 µg g-1) nas amostras de ração de abate. Não houve diferença significativa pelo teste de Tukey (p <0,05) nos níveis médios de fumonisinas entre os quatro tipos de ração, sendo que predominaram baixos níveis da micotoxina (0,1 a 1,0 µg g-1). Aflatoxinas foram detectadas em 44% das amostras pré-inicial (média = 2,33 ng g-1), em 55% das amostras de ração inicial (média = 5,70 ng g-1), em 85% das amostras de engorda (média = 6,27 ng g-1) e em 82% das amostras de abate (média = 3,65 ng g-1), respectivamente. Entretanto, a maioria das amostras (93%) apresentou níveis abaixo de 6,0 ng g-1. Não houve diferença significativa pelo teste de Tukey (p <0,05) nos níveis médios de aflatoxinas entre os quatro tipos de ração. Considerando os maiores níveis de FB1 detectados nos quatro tipos de ração, foi calculado o consumo máximo diário provável desta toxina. Para todos os tipos de ração estes valores foram inferiores ao LOAEL (lowest observed adverse effect level) tolerado para frangos de corte segundo a European Food Safety Authority (EFSA). Com relação às aflatoxinas, 97% das amostras apresentaram níveis abaixo do limite considerado seguro pela EFSA. Nas amostras de ração destinadas a galinhas poedeiras, Fusarium spp. foi o gênero de maior prevalência (99%), seguido por Penicillium spp. (97%) e Aspergillus spp. (90%). Os níveis de fumonisinas variaram de 0,20 a 5,06 µg g-1 (média = 1,47 µg g-1), no entanto, a maioria das amostras (67,4%) apresentou baixos níveis de fumonisinas (0,03 a 2,0 µg g-1). FB1 foi detectada em 89,8% das amostras (média = 0,87 µg g-1), enquanto FB2 foi detectada em 78,6% das amostras (média = 0,49 µg g-1). Aflatoxinas foram detectadas em 71,4% das amostras (média = 12,37 ng g-1), no entanto, a maioria das amostras positivas (53%) apresentou níveis abaixo de 5,0 ng g-1. Em 61,2% das amostras houve co-ocorrência de fumonisinas e aflatoxinas. O maior nível de fumonisinas detectado neste estudo foi 12 vezes menor que o valor de LOAEL, enquanto que 84,3% das amostras apresentaram níveis de aflatoxinas abaixo do limite considerado seguro pela EFSA. Considerando a alta frequencia de contaminação das amostras de ração por fumonisinas e aflatoxinas, torna-se essencial o monitoramento contínuo da contaminação de milho e rações por micotoxinas ao longo de toda a cadeia produtiva a fim de minimizar as perdas econômicas e os riscos à saúde humana e animal. O ic-ELISA padronizado e validado demonstrou sensibilidade, confiabilidade e uma boa correlação com o HPLC, apresentando potencial para triagem de aflatoxinas em amostras de ração para aves.

ASSUNTO(S)

aflatoxina teste imunoenzimático ave poedeira - alimentação e rações ave doméstica - alimentação e rações mycotoxins aflatoxins hen bird feeding and feeds poultry feeding and feeds micotoxinas

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