Avaliação a longo prazo do tratamento etiológico da doença de Chagas com benznidazol
AUTOR(ES)
CANÇADO, J. Romeu
FONTE
Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
DATA DE PUBLICAÇÃO
2002-02
RESUMO
O objetivo deste artigo é verificar o resultado da terapêutica específica com o benznidazol na doença de Chagas aguda e crônica, após prazo longo de seguimento dos pacientes, tomando como base do critério de cura a reversão pós-terapêutica definitiva à negatividade das reações sorológicas convencionais quantitativas. Foram avaliados 21 pacientes agudos e 113 crônicos, em uma ou outra das diferentes formas clínicas, selecionados por terem sido tratados somente com o benznidazol e acompanhados por longo tempo, de 13 a 21 anos os agudos e de seis a 18 anos os crônicos. Expôs-se o esquema terapêutico, dando ênfase à estreita correlação entre os efeitos colaterais e a dose total de 18 g, aproximadamente, limite obrigatório porque com essa dose surge a polineurite, se já não estiver presente. Foram relacionadas algumas precauções para a segurança do tratamento. Anotou-se a duração da doença, tanto aguda como crônica, circunstância que influi no resultado do tratamento. As reações sorológicas usadas foram a de fixação do complemento, a de imunofluorescência indireta, a de hemaglutinação indireta, e, ocasionalmente, a da ELISA. Verificou-se a cura em 76 por cento dos pacientes agudos e de apenas 8 por cento dos crônicos. Tendo em mente esses resultados, discutiram-se pontos duvidosos da terapêutica etiológica da doença de Chagas, como critério de cura, o papel da imunossupressão para o conhecimento da patogenia da doença e as reações adversas ao medicamento. A hipótese do autor é que na doença crônica de longa duração o T. cruzi persiste nos tecidos, após o tratamento, na grande maioria dos doentes tratados, escapando à ação do medicamento e mantendo positivos os testes sorológicos. Relacionam-se razões que justificam o tratamento na doença crônica. Com relação ao ciclo vital do Trypanosoma cruzi no hospedeiro vertebrado, há ainda pontos obscuros e controvertidos. Embora não haja prova da existência de formas resistentes ou latentes, a descoberta, ao longo dos últimos 15 anos, de que a imunossupressão desencadeia a doença aguda nos pacientes crônicos de longa duração, justifica revisão do assunto.
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