Autogestão e identidade: a experiência dos trabalhadores da Metalcoop / Worker-management and Identity: the experience of Metalcoop workers

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A consolidação das iniciativas de Economia Solidária fez emergir diversas questões para investigação da Psicologia Social. O foco deste estudo é a construção da identidade de cooperador nas cooperativas industriais autogeridas, provenientes da recuperação de empresas falimentares por seus trabalhadores. Nestas cooperativas, os antigos empregados se tornaram cooperadores, surgindo assim um novo agente social e econômico: o sócio-trabalhador. Como tais cooperadores são geralmente ex-empregados da antiga empresa, o objetivo deste estudo foi descrever e interpretar como ocorre a mudança da identidade de ex-empregado para a de cooperador. Trata-se de questão relevante, uma vez que diversos pesquisadores observaram dificuldades na apropriação simbólica desta identidade por parte dos trabalhadores, fato que atribuíram à .herança cultural do taylorismo-fordismo.. Entretanto, como hipótese, esta pesquisa atribuiu tais dificuldades à manutenção deste modelo de produção na realidade laboral dos trabalhadores. O referencial teórico adotado foi a Teoria Social da Pessoa, do psicólogo social George Mead. De acordo com esta teoria, compreendese a pessoa (Self) como fenômeno dialógico-histórico-vital, formado nas interações simbolicamente mediadas com dois tipos de .outros.. Daí pode-se compreender uma dupla modalidade da existência social da pessoa: a primeira relativa à pessoalidade (personal Self), conformada perante .outros significativos. (significant others), a segunda à identidade (social Self), conformada perante .outros generalizados. (generalized others). Deste referencial derivaram duas proposições, pelas quais a mudança identitária destes trabalhadores dependeria: da construção de uma identidade normativa de cooperador; e da performance da identidade de cooperador pelos trabalhadores, que poderia ser facilitado pela construção da autogestão na produção e dificultado pela manutenção do modelo taylorista-fordista. Este é um estudo etnográfico e foi realizada com trabalhadores da Metalcoop (Salto - SP), tanto por meio de conversas durante o cotidiano de trabalho, como também por meio de quatro entrevistas prolongadas nas quais eles falaram sobre a cooperativa e sobre suas .histórias de vida de trabalho.. A interpretação desta conversação derivou na identificação de três posições simbólicas formadas durante a constituição da cooperativa, às quais os cooperadores e funcionários podem aderir: .vanguarda., .pró-vanguarda. e .retaguarda.. Destaca-se que a .vanguarda. liderou a constituição da cooperativa e da identidade normativa de .cooperador engajado., pela qual um cooperador deve ser: responsável e dedicado ao trabalho; engajado no grupo; exemplar para os funcionários; inteligente na produção; atento ao conjunto e envolvido com a cooperativa. A pesquisa concluiu que a apropriação simbólica da identidade normativa de .cooperador engajado. depende da possibilidade de sua performance, fato que, para grande parte dos trabalhadores, é dificultado pela falta de autonomia para modificar o trabalho e pela fixidez em um posto de trabalho rígido. Tais dificuldades resultam em uma .identidade em crise., já que é impelida pela .vanguarda. e, simultaneamente, impedida de se .perfazer. pela vivência cotidiana de um trabalho prescrito e fixo que dificulta sua .performance.. Ao fim, discute-se possibilidades de uma reorganização sócio-técnica que torne o cotidiano laboral e comunicativo mais condizente com a construção e negociação da identidade de cooperador.

ASSUNTO(S)

labour autogestão cooperativism identity trabalho psicologia social cooperativismo works councils economia solidária solidary economic identidade social psychology

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