Autoficção e experiência em O pai da menina morta, de Tiago Ferro

AUTOR(ES)
FONTE

Estud. Lit. Bras. Contemp.

DATA DE PUBLICAÇÃO

27/06/2019

RESUMO

Resumo Com base nos conceitos de “experiência do fora” de Maurice Blanchot e “experiência interior” de Georges Bataille, neste artigo analiso o deslocamento do sujeito para o fora no romance O pai da menina morta, de Tiago Ferro. Embora Blanchot recuse o Eu que fala na obra literária e seu discurso pessoal, proponho, ainda assim, como chave de leitura, a autoficção, que se concretiza no texto não como recurso estilístico e crítico (como se observa com frequência na literatura contemporânea), mas enquanto deslocamento do eu empírico do escritor para outro, dando origem a um duplo que não mais remete a um real precedente e tampouco constitui uma cópia, cujo sentido só se concretiza com o leitor e sua experiência pessoal que preencherá os espaços vazios da narrativa. Objetivo demonstrar, portanto, como as duas leituras não são contraditórias, mas complementares na medida em que o centro da narrativa está no deslocamento, depois da experiência de perda vivenciada pelo personagem anônimo e sua necessidade de se ajustar diante da ausência. A partir de sua própria experiência, Ferro cria um romance lírico e fragmentado que, nascido da morte, busca pelo que ainda resta de vivo nesse sujeito que não quer, e nem pode, ser chamado de Eu.Abstract Based on the concepts of “experience of the outside” by Maurice Blanchot and “interior experience” by George Bataille, in this paper I analyze the displacement of the subject to the outside in the novel O pai da menina morta, by Tiago Ferro. Although Blanchot rejects the literary Self of the work and its personal speech, I propose, autofiction as a way of reading Ferro’s work. Autofiction materializes in the text not as a stylistic and critical device (as is often the case in contemporary literature), but as a displacement of the author’s empirical self to the other, engendering a double that no longer refers to a real precedent, neither consists in a copy, whose meaning is only effective with the reader and his personal experience that will fill in the blank spaces of the narrative. Therefore, I intend to demonstrate how both readings are not contradictory but complementary once the narrative core is displaced, after the loss experienced by the anonymous character and his need to adjust against absence. From his own experience, Ferro creates a lyrical and fragmented novel that, born from death, looks for what is still alive in this subject who neither wants to, nor can, be called the Self.

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