Atividade da amilase e ácido úrico salivar em pacientes submetidos à nutrição enteral exclusiva.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A saliva é o produto da secreção das glândulas salivares, representadas principalmente pelas parótidas, submandibulares e as sublinguais, além de inúmeras outras pequenas glândulas bucais. O fluxo salivar normal exerce um papel vital na manutenção da saúde da orofaringe. Em pessoas com distúrbios da deglutição, a aspiração do conteúdo orofaringeano ou gástrico pode levar a infecções do trato respiratório inferior, tais como pneumonia aspirativa ou pneumonite. Em tais casos, é contra-indicada a alimentação por via oral e a nutrição enteral exclusiva torna-se a conduta de eleição para o aporte de nutrientes necessários à vida. A mudança no status da mastigação de pacientes submetidos à nutrição enteral causa impacto nos mecanismos de defesa enzimático e não enzimático presentes na saliva. Sendo a amilase e o acido úrico componentes do mecanismo de defesa enzimático e antioxidante, respectivamente, justifica-se o conhecimento dos níveis salivares dessas substâncias em pacientes submetidos a períodos variáveis de nutrição enteral exclusiva. Os objetivos do presente estudo foram: 1) Comparar os níveis salivares de amilase e ácido úrico de pacientes agrupados de acordo com a duração da terapia nutricional enteral exclusiva; 2) Correlacionar os níveis salivares de amilase e ácido úrico com os parâmetros clínicos e laboratoriais de pacientes submetidos à terapia nutricional enteral exclusiva. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Os voluntários ou seus responsáveis legais foram esclarecidos sobre os objetivos e a metodologia do estudo e tiveram livre escolha em participar da pesquisa. O estudo foi conduzido nas diversas enfermarias do Hospital das Clínicas e da Unidade de Emergências da FMRP-USP, com 42 pacientes adultos, sendo 27 do gênero masculino (64,3%) e 15 do feminino (35,7%) e média de idade de 57,2 17,0 anos. O período em que os indivíduos estavam em alimentação via oral zero teve mediana de 17 dias, variando de 1 dia a 2 anos e 6 meses. O Grupo Controle (n = 8) foi composto por indivíduos que estavam sem dieta via oral por período menor que 3 dias. O Grupo Média Duração (n = 8) incluiu os pacientes que estavam em dieta via oral zero por 5 a 10 dias; o Grupo Longa Duração (n = 26) foi formado por pacientes privados de qualquer alimento ou líquidos por via oral por período superior a 11 dias. Utilizando-se o sistema informatizado, foram obtidos os dados laboratoriais nos três dias precedentes ou posteriores à data da coleta da saliva. Aspirou-se 1 a 3 mL de saliva, utilizando-se uma sonda de aspiração orotraqueal; as amostras foram colocadas em tubo a vácuo, esterilizado e sem anticoagulantes, hermeticamente fechado e congelado à temperatura de -70 C até o momento das dosagens laboratoriais. As dosagens de amilase, ácido úrico e proteínas salivares foram pelo do método enzimático colorimétrico, no Laboratório de Nutrição da FMRP-USP. Os valores de amilase salivar são expressos de acordo com a concentração de proteína 37 total salivar (U/g) e os níveis salivares de ácido úrico são expressos em mg/dL. A análise estatística foi feita com o sofware STATISTICA 6.0. A comparação de duas variáveis com distribuição normal e homogêneas foi feita pelo teste t; para três variáveis, utilizou-se o teste de ANOVA-F. A comparação de duas variáveis normais e não homogêneas ou aquelas com distribuição não-normal foi feita pelo teste de Mann-Whitney; para três variáveis, utilizou-se o teste de KruskalWallis. Foi feita a matriz de correlação para duas variáveis numéricas e a análise de associação para variáveis categóricas; utilizou-se o teste do Qui quadrado clássico quando todas as freqüências foram maiores que 5 e o Qui-quadrado de Yates quando alguma freqüência foi menor que 5 e maior que 1. Diferenças entre as variáveis foram consideradas significativas quando p <0,05. Os pacientes dos Grupos Controle, Média e Longa Duração foram pareados para a idade (61,3 20,9 vs. 54,6 18,8 vs. 56,8 15,5 anos) e houve predomínio do gênero masculino (62,5 vs. 100 vs. 53,8%). Houve grande dispersão em torno dos valores de centralidade (mediana) dos níveis de amilase salivar entre os indivíduos que estavam em terapia nutricional enteral exclusiva por períodos prolongados. Não houve diferença estatística nos níveis salivares de amilase e ácido úrico entre os pacientes do Grupo Controle e de acordo com a duração da terapia nutricional enteral (Grupo Média e Longa Duração). Quando os indivíduos foram agrupados de acordo com o comportamento dos níveis salivares de ácido úrico, observou-se que 27 pacientes (64,3%) apresentavam níveis normais e 15 (35,7%) tinham valores baixos. Não houve diferença estatística nos valores de amilase e ácido úricos salivares quando os indivíduos foram agrupados de acordo com a condição clínica que determinou a indicação da nutrição enteral exclusiva. Concluímos que a duração da terapia nutricional exclusiva não modificou os níveis salivares de amilase ou de ácido úrico e que não houve correlação entre os níveis salivares de amilase ou de ácido úrico com os dados laboratoriais utilizados para a avaliação clínica dos pacientes submetidos à nutrição enteral exclusiva, assim como com as situações que contra-indicaram a alimentação por via oral. O comportamento da amilase e do ácido úrico salivares pode estar refletindo as particularidades no estado de saúde dos pacientes hospitalizados, que exigem marcadores específicos para avaliar eventuais fatores que modificam a bioquímica salivar. É possível que a contaminação patogênica da orofaringe seja um fator determinante na concentração de amilase e ácido úrico salivares, justificando a variabilidade dos resultados obtidos.

ASSUNTO(S)

nutrição enteral uric acid diastase saliva anatomia patologica e patologia clinica amylases enteral nutrition saliva ácido úrico

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