Atividade antitumoral, isolamento e identificação dos principios ativos da Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. (Ericaceae)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. (Ericaceae), popularmente conhecida corno "camarinha", é usada na medicina popular brasileira no tratamento de processos inflamatórios. Os objetivos deste trabalho foram: (1) avaliar a atividade antitumoral de extratos brutos obtidos desta espécie vegetal em modelo "in vitro" de cultura de células tumorais humanas; (2) determinar as frações ativas farmacologicamente nos modelos de cultura de células tumorais humanas e isolar e caracterizar quimicamente o(s) princípio(s) ativo(s) responsável(eis) por esta atividade; (3) avaliar a correlação entre o mecanismo responsável pela atividade antitumoral do princípio ativo isolado de Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. e a inibição da enzima cic1ooxigenaseem modelos "in vitro" e "in vivo" e, (4) avaliar o mecanismo responsável pela atividade antitumoral do princípio ativo isolados de Gaylussacia brasiliensis Meiss. em modelo "in vitro". A atividade antiproliferativa do extrato bruto diclorometânico (EBD) foi avaliada no ensaio da sulforrodamina B em quatro concentrações (250, 25, 2.5, 0.25 Ug/mL), após 48 horas de incubação. EBD inibiu o crescimento de todas as linhagens celulares, de forma concentração dependente, com melhor atividade citocida sobre a linhagem celular NCI-ADR. Então, EBD foi pré-purificado em coluna cromatográfica seca em silica-gel fornecendo 5 frações. Dentre estas, a fração C (PC) foi a mais ativa, inibindo todas as células na concentração de 25Ug/mL. FC foi fracionada em silica-gel com uma mistura de hexano-acetato de etila, originando o composto puro MAA-266. Este composto foi identificado com base em experimentos 2D-NMR como um triterpeno (acido 2 ?, 3 ? dihidroxi-urs-12-ene-28-oic). MAA-266 apresentou atividade antirproliferativa concentração-dependente e seletividade para as linhagens celulares 786-0 e MCF-7; o menor valor de IC5o foi de 6 Ug/mL para a linhagem celular NCI-ADR. Vários trabalhos têm demonstrado a participação do ácido acetilsalicílico na redução dos riscos de câncer de cólon intestinal e estudos in vitro e in vivo tentam avaliar o mecanismo de ação antiproliferativo dos inibidores específicos da COX-2, provavelmente relacionado à indução da apoptose celular e o bloqueio da produção de PGE2.A avaliação de uma ação inibitória de EBD sobre a síntese da PGE2 em mucosa gástrica de ratos e de MAA-266 sobre a síntese da PGE2 em célula tumoral humana HT-29, sugeriu que o mecanismo de ação antiproliferativo poderia envolver a biossíntese dos eicosanóides. Por outro lado, foram analisadas outras hipóteses a fim de evidenciarmos qual o mecanismo de ação responsável pela atividade antiproliferativa do composto MAA-266 obtido de Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn., como possíveis ações no DNA e na indução da apoptose. Assim, investigamos se a atividade antiproliferativa de MAA- 266 era dependente do tempo de exposição da célula ao mesmo, inferindo que a citotoxicidade de um fánnaco por interferência com o metabolismo dos ácidos nuc1éicos fosse um processo lento. Quando a célula tumoral humana OVCAR-03 foi exposta, em diferentes períodos de tempo, ao 3 composto MAA-266, não foi demonstrado um incremento do efeito antiproliferativo dependente do tempo de exposição, o que pode sugerir que MAA-266 não deva interferir em rotas metabólicas das bases púricas e pirimidínicas, funcionando como um antimetabólito. Além disso, a estrutura química do composto MAA-266 não apresenta similaridade com os metabólitos endógenos. Para investigar a hipótese de que o mecanismo de ação antiproliferativo do composto MAA-266 envolvesse a intercalação nos ácidos nuc1éicos, realizados o ensaio denominado "Teste do DNA-methylgreen". Os resultados obtidos demonstraram que o composto MAA-266 foi inativo, enquanto que a doxorrubicina foi capaz de reduzir a absorbância em 48%, sugerindo que o mecanismo de ação antiproliferativo de MAA-266 não deva envolver a intercalação do DNA. Finalmente, o efeito pró-apoptótico de MAA-266 foi avaliado através da análise morfológica de células 4a linhagem OYCAR-03, em microscopia ótica e eletrônica e varredura, expostas a diferentes concentrações deste composto (250, 50, 25 e 2,5 Ug/mL), por 48 horas. A análise microscópica ótica revelou fragmentação nuclear, vacuolização citoplasmática, muItinuc1eação e células gigantes. Já na microscopia eletrônica de varredura foi observado formação de vesículas na membrana celular com redução do volume da mesma, características estas associadas ao perfil apoptótico. A correlação entre os achados morfológicos e o mecanismo antiproliferativo está atualmente sendo investigado através do teste da anexina Y, assim como o isolamento de outros compostos ativos presentes nesta espécie vegetal

ASSUNTO(S)

plantas medicinais

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