Assombrações na bíblia judaica: estudo clasificatório sobre tradições folclóricas de demônios e fantasmas difundidas no Antigo Israel e subjacentes aos textos hebraicos canônicos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/01/2012

RESUMO

Esta dissertação desenvolve-se a partir da seguinte hipótese: à semelhança de todas as demais culturas ao redor do mundo e em todas as épocas, o Antigo Israel cultivou crenças em assombrações. Dessa hipótese, desdobra-se uma pergunta central: a Bíblia judaica conservou vestígios dessas crenças? A pesquisa elabora uma resposta em três capítulos. No primeiro, estabelece-se uma definição geral de assombração para, em seguida, aplicá-la a alguns textos da Bíblia judaica na forma de duas categorias básicas: demônios e fantasmas. Comentam-se, desse modo, especialmente sete assombrações ` a zāzēl, Lîlîṯ, os ś e `îrîm, Maḥîṯ, a mão fantasmagórica, Bēs e os ś e rāpîm do templo de Jerusalém , as quais, ao mesmo tempo que enquadradas dentro das categorias anteriores, são agrupadas numa tipologia baseada em elementos que estabelecem afinidades entre elas: assombrações de lugares desertos, assombrações insalubres ou mortíferas, assombrações agourentas e assombrações benevolentes. No segundo capítulo, utilizando a metodologia de exegese histórico-crítica, propõe-se uma análise de Ex 4.24-26. O objetivo é investigar a possibilidade de haver uma versão mais antiga desse texto, segundo a qual o filho de Zípora, e não Moisés, fora atacado no lugar do pernoite por um demônio. Diante da ameaça, a mãe do menino efetuou-lhe a circuncisão e proferiu um dito, dois atos que poderiam ser entendidos como integrantes de um ritual de exorcismo. Uma releitura monoteísta teria sido responsável por três modificações básicas: a) substituição do demônio por YHWH; b) inclusão de Moisés na história, provável causa da confusão dos pronomes pessoais masculinos e c) reinterpretação da circuncisão, a qual passou de procedimento de exorcismo para sinal de pertencimento ao povo de YHWH no contexto da narrativa da saída de Israel do Egito (Ex 1 15). No terceiro capítulo, emprega- se, uma vez mais, a metodologia de exegese histórico-crítica para analisar 1Sm 28.3-25. Pela comparação com outros textos de cunho deuteronomista, identificaram-se prováveis acréscimos redacionais que sugeririam ter havido, em um estágio mais antigo, uma narrativa que contava como um ancestral falecido anônimo anunciou a morte de Saul nas mãos dos filisteus. Não se percebia necessariamente uma censura à prática da consulta aos mortos, apenas a exposição de variados meios de consulta a um oráculo. Mais tarde, o trabalho deuteronomista sobre essa peça literária teria transformado Saul num perseguidor daquela arte, tornando-o, simultaneamente, culpado de recorrer àquilo que ele mesmo havia proibido. Além disso, substituiu-se o ancestral anônimo original evocado pela mulher de En-Dor pelo profeta Samuel, cuja palavra se cumpre justamente por ser ele, de acordo com a perspectiva deuteronomista, um porta-voz autorizado de YHWH. Pode-se, portanto, considerar Ex 4.24- 26 e 1Sm 28.3-25 como dois exemplos de histórias de assombração na Bíblia judaica.

ASSUNTO(S)

assombrações yhwh demônios fantasmas bÍblia teologia apparitions yhwh demons phantoms

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