Aspectos psicofisiológicos, percepção e memória emocional em mulheres vítimas de violência doméstica

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Introdução: A violência contra a mulher no âmbito familiar tornou-se um grave problema de saúde pública face ao crescente número de tais atos em nossa sociedade. Desta forma, interessou-nos compreender tal fenômeno por meio do presente estudo, pois a violência contra a mulher resulta em prejuízos físicos, cognitivos e emocionais ao longo dos anos. Objetivos: Avaliar a percepção, as reações psicológicas e fisiológicas e a representação cerebral (memória) de eventos emocionalmente negativos, positivos e neutros em 17 mulheres vítimas de violência doméstica, a fim de investigar a experiência emocional nesta população, comparadas a 17 mulheres de grupo controle. Métodos: Os estímulos empregados foram selecionados do conjunto de figuras com conteúdo emocional (IAPS), e as respostas fisiológicas de condutância da pele e freqüência cardíaca foram medidas pré-teste (medida basal) e durante a apresentação dos estímulos emocionais. Os aspectos psiquiátricos foram avaliados através de escalas de depressão e de ansiedade de Beck, de sintomas do transtorno de estresse pós-traumático (PCLC) e questionário de experiências dissociativas peri - traumáticas. Já a memória foi avaliada através de testes de recordação livre e reconhecimento dos estímulos emocionais. Resultados: Os resultados mostraram que as mulheres avaliadas apresentaram alta morbidade psiquiátrica, pois 89% demonstrou sintomas depressivos, 94% sintomas de ansiedade, 88% experiências dissociativas peritraumáticas no momento de exposição ao evento traumático ou logo após e 76% sintomas de transtorno do estresse pós - traumático. Quanto à percepção subjetiva foi observado que as mulheres vítimas de violência doméstica (VD) apresentaram alterações em termos de apreciação (agradável/desagradável), ou seja, as figuras de alto alerta com conteúdos sexuais foram consideradas como menos agradáveis por estas do que pelo grupo controle. Também houve alteração referente às figuras neutras, as quais foram consideradas mais agradáveis pelas mulheres vítimas de VD do que pelo grupo controle. No que se refere à memória emocional, pudemos observar uma tendência das mulheres vítimas de VD em lembrar menos figuras dos estímulos do IAPS. Nos aspectos fisiológicos observamos que a diferença entre os grupos esteve na quantidade e reação da freqüência cardíaca para respostas do tipo falso positivo (ou seja, no teste de reconhecimento dizer que viu figuras que na verdade não haviam visto). Houve uma tendência do grupo VD a cometer menos erros para as figuras com conteúdo de violência doméstica e uma tendência de serem mais rápidas no tempo de reação para reconhecer figuras agradáveis de alto alerta e de violência doméstica. Conclusão: Pudemos observar que as mulheres vítimas de violência doméstica crônica apresentaram alta freqüência de sintomas de transtornos psiquiátricos, levando o organismo a sair do estado de homeostase, com alterações permanentes em sistemas cognitivos mais complexos. Houve alteração da freqüência cardíaca e da percepção, demonstrada através do fato de terem ficado mais atentas e reagirem mais rapidamente aos estímulos negativos, levando o organismo ao estado de alerta constante, e, portanto, ao desenvolvimento de várias comorbidades. Devido exposição crônica ao estresse ocorreram déficits significativos na memória emocional.

ASSUNTO(S)

violência doméstica violência contra a mulher memória psiquiatria

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