Aspectos ecologicos da pesca artesanal no Rio Grande a jusante da Usina Hidreletrica de Marimbondo
AUTOR(ES)
Fabio de Castro
DATA DE PUBLICAÇÃO
1992
RESUMO
Este é um estudo sobre um pequeno grupo de pescadores do Rio Grande que pescam à jusante da Usina Hidrelétrica de Marimbondo. Neste trecho existe uma freqüência relativamente alta de pesca turística nos finais de semana. Os objetivos são relacionar a variação sazonal da disponibilidade do recurso pesqueiro com as estratégias de captura e consumo de pescado e analisar a influência do turismo na pesca artesanal. Para tanto, visitei mensalmente o local durante 18 meses para obter informações sobre a atividade pesqueira e sobre o consumo de itens de origem animal em casas de pescadores artesanais (amostragem de viagens de pesca e de refeições), além de realizar 6 entrevistas com todos os pescadores da região. Os pescadores utilizam 4 tecnologias de pesca que variam nos diferentes períodos do ano. A tarrafa é mais empregada no período da cheia (entre novembro e março), quando o corimba (Prochilodus lineatus), que é a espécie mais capturada na região, realiza migração reprodutiva rio acima e os indivíduos ficam concentrados próximos a barragem da Usina Hidrelétrica, que impede a passagem dos cardumes. O maior valor de captura por viagem ocorre neste período e todos os pescadores artesanais estão em atividade de pesca. A pesca turística também é mais intensa nesta época, mas não compete com a pesca artesanal, porque ocorre em local diferente e os turistas capturam outras espécies de peixe. O pescado é comercializado principalmente neste período, representando pouco no consumo familiar dos pescadores artesanais. O espinheI é mais empregado no período de transição (meses de abril e outubro), quando a atividade de pesca apresenta uma diminuição no valor de captura por vIagem. Esta tecnologia é fixa e somente alguns pescadores que possuem territórios de pesca (pontos de espinheI) conseguem manter a atividade de pesca a nível comercial. Tal fato é possível porque a espécie mais capturada por esta tecnologia é o barbado (Pinirampus pirinampu) que possui um preço de mercado que corresponde quase ao dobro do preço do corimba. A competição por espaço entre os pescadores artesanais e os turistas ocorre nestes meses porque os pontos de espinheI estão localizados próximos aos portos de desembarque, onde os turistas freqüentemente passam com os barcos para pescar. A rede de espera e o anzol e linha são principalmente empregados no período de seca (entre maio e setembro), quando a captura por viagem é relativamente baixa e a comercialização do pescado ocorre em proporções bem menores aos demais períodos do ano. Então, a maior parte dos pescadores artesanais se ocupa com outras atividades (plantação de cana-de-açúcar, operário de destilaria, construção civil, dentre outros) e a pesca é atividade mais representativa como atividade de subsistência. A atividade turística também é baixa nestes meses, provavelmente devido a baixa produtividade da pesca e a baixa temperatura. As estratégias de pesca estão bastante relacionadas à disponibilidade dos recursos durante o ano. O pescado tem um papel importante na dieta no período de baixa renda, enquanto é principalmente comercializado nos meses de maior abundância de pescado. Por isso, o preço do pescado, além da sua abundância, são variáveis fundamentais na decisão de pescar ou não, e nas estratégias de pesca a ser empregada.
ASSUNTO(S)
ecologia pesca - aspectos ambientais biologia
ACESSO AO ARTIGO
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000046620Documentos Relacionados
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