Aspectos clínicos e metabólicos de pacientes obesos do sistema único de saúde, submetidos à operação de capella no Hospital das Clínicas da UFMG

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Introdução: A prevalência da obesidade classe III ou mórbida aumentou nos últimos decênios e as operações bariátricas têm sido indicadas como importante modalidade de tratamento para obesos graves, com objetivo de promover a perda e manutenção do peso corporal por médio e longo prazo. Comorbidades como a hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e hiperuricemia freqüentemente se associam à obesidade mórbida e exercem impacto na morbimortalidade dos indivíduos obesos. Os mecanismos que levam à perda e manutenção do peso corporal e melhora das comorbidades depois das operações bariátricas não estão completamente elucidados. Uma linha de pesquisa importante diz respeito à influência das alterações dos peptídeos gastrointestinais na perda e manutenção do peso no pós-operatório. As operações bariátricas são oferecidas pelo sistema público de saúde brasileiro (SUS), dentro de critérios específicos de indicação. Os resultados de médio e longo prazo desse tratamento em populações operadas pelo SUS ainda não são bem conhecidos. Desta forma, os objetivos dessa tese são: i) rever os estudos que abordam as implicações das diferentes técnicas operatórias nos peptídeos gastrointestinais que se relacionam ao controle do apetite e da saciedade; ii) descrever o perfil sócio-demográfico e clínico da coorte de pacientes obesos mórbidos do SUS operados no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais a partir de 1998; iii) analisar os resultados da coorte com seguimento até cinco anos de pós-operatório. Métodos: Esta tese será apresentada no formato de quatro artigos. No primeiro trabalho, realizou-se revisão dos artigos médicos publicados a partir de 1970 até março de 2006, com ênfase em trabalhos em humanos dos dois últimos anos e que se referissem ao impacto das diferentes técnicas operatórias em cirurgia bariátrica nos níveis dos peptídeos gastrointestinais anorexígenos ou orexígenos. A pesquisa foi feita na base de dados do MEDLINE, para artigos em língua inglesa, francesa ou portuguesa. Foram analisados os aspectos metodológicos de cada publicação: desenho do estudo, número e gênero dos pacientes, tempo de seguimento, além dos resultados. No segundo artigo, foram apresentados os resultados da linha de base da coorte submetida à técnica do bypass gástrico (Cirurgia de Capella) no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais entre março de 1998 e 2005. Descreveram-se as características da coorte: distribuição por gênero, idade, escolaridade, ocupação; dados antropométricos; prevalência de hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia, hiperuricemia, anemia e hipoproteinemia; uso de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos; e mortalidade. A análise univariada foi utilizada para explorar a associação da obesidade mórbida com variáveis de interesse. No terceiro artigo, apresentou-se a evolução da coorte até dezembro de 2006, descrevendo-se a taxa de adesão ao seguimento e a evolução dos dados antropométricos e das comorbidades ao longo do tempo. No quarto artigo, em forma de carta ao editor, foram feitos questionamentos referentes à publicação de resultados de coorte canadense de longo prazo em comparação aos resultados dos pacientes do Hospital das Clínicas da UFMG. Resultados: PRIMEIRO ARTIGO: Os peptídeos mais pesquisados após a cirurgia bariátrica e que podem estar envolvidos no controle do apetite e saciedade são muitos: ghrelina, colecistocinina, glucagon-like peptide-1, enteroglucagon, peptídeo YY, polipeptídeo pancreático, polipeptídeo gástrico inibitório, orexinas. A maioria dos estudos em humanos recentemente publicados analisa a ghrelina e glucagon-like peptide-1. Foram avaliados 41 estudos seccionais e longitudinais, com casuística que variou de oito a 66 pacientes e várias técnicas operatórias: bypass gástrico em Y de Roux, banda gástrica ajustável, derivação bílio-pancreátrica, derivação jejuno-ileal e gastroplastia vertical com bandagem. As alterações dos peptídeos variaram de acordo com as técnicas operatórias bariátricas, métodos de análise e tempo de seguimento. Estudos referentes à ghrelina mostram desde a supressão, até a elevação dos seus níveis em jejum. Dessa forma, apesar de haver evidências que ocorram alterações com o eixo intestino-cérebro depois das operações e que estas possam contribuir nos resultados quanto à perda de peso e melhora de comorbidades, ainda não são possíveis conclusões definitivas. SEGUNDO ARTIGO: A linha de base da coorte constou de 193 indivíduos, com predomínio de mulheres (142 / 73,5%), escolaridade superior à média brasileira, elevado Índice de Massa Corporal (IMC: 52,7 ± 8,1 kg/m2) e alta prevalência de comorbidades: hipertensão arterial (63,2%), diabetes mellitus (23,8%), hipercolesterolemia (41,6%), hipertrigliceridemia (45,2%), hiperuricemia (42,6%), anemia (5,2%), hipoproteinemia (3,6%). Além disso, o consumo de antidepressivos e ansiolíticos foi elevado. A mortalidade até o primeiro ano de pós-operatório foi elevada em relação à média mundial (4,1% versus inferior a 1-2%), ocorrendo até o 14°. dia de pós-operatório e pelas causas mais comumente descritas depois dessas operações. TERCEIRO ARTIGO: A adesão ao seguimento na coorte foi de 91,9% no primeiro ano e 82,%; 71,1%; 71,2%; 72,5% para o segundo, terceiro, quarto e quinto anos, respectivamente. Houve redução acentuada, persistente e significativa do IMC em relação ao pré-operatório. Os melhores resultados quanto à perda de peso foram observados até o segundo ano de seguimento. Nessa ocasião, diferentes critérios para analisar o sucesso quanto à perda de peso implicaram em resultados diversos, com taxas de sucesso variando de 63,4% (critério Reinhold) a 90,4% (critério percentagem de perda de peso igual ou superior a 50%). Entre o segundo e o quinto anos de seguimento, houve reaquisição de peso de 8,1 ± 5,7 kg, o que significou uma redução significativa da percentagem do excesso de peso perdido (diferença média: 8,5 ± 11,6; p=0,0001). Houve redução importante da prevalência das comorbidades pesquisadas até o quinto ano de seguimento, a despeito da reaquisição parcial de peso. A prevalência da anemia teve um aumento progressivo ao longo do tempo de seguimento. QUARTO ARTIGO: Os resultados quanto à perda de peso no pós-operatório foram bastante diferentes dos apresentados em estudo canadense de longo prazo, mesmo considerando a maior prevalência de superobesidade no presente trabalho. A despeito de se observar a grande eficiência do procedimento em pacientes de alta gravidade, as taxas de sucesso foram bem inferiores às da coorte internacional. Conclusões: São necessárias mais pesquisas para melhor compreensão das alterações dos peptídeos gastrointestinais que, até o momento, foram descritas em pequenos estudos clínicos no pós-operatório das operações bariátricas, de forma que se possa correlacioná-las aos mecanismos que levam à perda do peso e resolução das comorbidades. Esse parece ser um importante campo de pesquisa para auxiliar no desenvolvimento de novas modalidades terapêuticas para a obesidade. Na coorte do SUS operada no Hospital das Clínicas da UFMG, a cirurgia de Capella foi muito eficiente no seguimento de médio prazo, proporcionando a redução e manutenção do peso corporal e melhora das comorbidades ao longo do acompanhamento. A alta mortalidade no pós-operatório pode se dever a características próprias de uma população com elevado IMC e alta prevalência de comorbidades no pré-operatório. A pequena casuística e a perda de seguimento ao longo do tempo são fatores limitantes deste estudo. A diferença de resultados dessa casuística em relação a outras publicações talvez reflita influências de contextos sócio-econômicos e culturais diversos. O aumento importante da prevalência de anemia mostra a necessidade de orientação nutricional e suplementação de polivitamínicos no seguimento dos pacientes submetidos a operações bariátricas, especialmente em populações de baixa renda.

ASSUNTO(S)

hipertensão decs diabetes mellitus/complicações decs perda de peso decs resultado de tratamento decs cirurgia bariátrica/mortalidade decs sistema Único de saúde decs obesidade mórbida/complicações decs hormônios gastrointestinais/metabolismo decs período pós-operatório decs

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