ASPECTOS BIOQUÃMICOS, TOXICOLÃGICOS E ALERGÃNICOS DO LÃTEX DA PLANTA CALOTROPIS PROCERA (Ait.) R. Br.

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

18/08/2006

RESUMO

O lÃtex da planta lactÃfera Calotropis procera (Ait.) R. Br. à um composto biologicamente ativo importante que apresenta propriedades relevantes como as atividades antiinflamatÃria e antidiarrÃica, embora jà tenha sido previamente mostrado que esse lÃtex produz efeitos tÃxicos considerÃveis em animais. Um outro fato à que nÃo à sabido, ainda, se as proteÃnas do lÃtex de C. procera produzem efeitos alergÃnicos, assim como as proteÃnas do lÃtex de Hevea brasiliensis. O potencial do lÃtex como um fÃrmaco, por essa razÃo, depende da separaÃÃo das propriedades curativas das propriedades tÃxicas e alergÃnicas, mas nÃo existe investigaÃÃo cientÃfica nessa Ãrea. O presente estudo teve como objetivo investigar aspectos bioquÃmicos, toxicolÃgicos e alergÃnicos do lÃtex da planta C. procera, atravÃs do estudo da digestibilidade in vitro e in vivo, avaliaÃÃo da toxicidade subcrÃnica e aguda por via oral e anÃlise da induÃÃo de resposta imune pelas vias subcutÃnea e oral das suas fraÃÃes. O lÃtex foi fracionado em trÃs fraÃÃes distintas de acordo com a sua solubilidade em Ãgua e tamanho molecular. As fraÃÃes foram assim denominadas: proteÃnas do lÃtex (PL), correspondendo Ãs principais proteÃnas do lÃtex; proteÃnas da diÃlise (PD), representando as substÃncias de baixa massa molecular; e borracha do lÃtex (BL) que à altamente insolÃvel em Ãgua. A fraÃÃo PL foi investigada, com relaÃÃo a alguns aspectos bioquÃmicos, como seu perfil protÃico por PAGE-SDS e anÃlise da composiÃÃo de seus aminoÃcidos. As proteÃnas do lÃtex tambÃm foram submetidas à digestÃo in vitro com as enzimas proteolÃticas pepsina, tripsina, quimiotripsina e protease de Streptomyces griseus e a digestibilidade in vitro foi avaliada por cromatografia de filtraÃÃo em gel ou PAGE-SDS. A digestibilidade in vivo de PL foi analisada quando animais experimentais ingeriram essa fraÃÃo por 35 dias. O volume de PL consumido foi registrado diariamente e amostras das fezes dos animais coletadas, tratadas e submetidas à PAGE-SDS e ensaios de imunodifusÃo radial dupla de Ouchterlony, com anticorpos policlonais contra PL. Com relaÃÃo aos aspectos toxicolÃgicos, a fraÃÃo PL foi oralmente administrada a animais experimentais por 35 dias, para a avaliaÃÃo da toxicidade subcrÃnica. Aumentos na massa corpÃrea foram registrados e amostras sangÃÃneas foram analisadas semanalmente. ApÃs o perÃodo experimental, os animais foram sacrificados e um nÃmero de parÃmetros bioquÃmicos e fisiolÃgicos foram determinados. Esses incluÃram determinaÃÃes sÃricas de glicose sangÃÃnea, colesterol total, HDL-colesterol, triglicerÃdeos, testes da funÃÃo hepÃtica (proteÃnas totais, albumina, alanina aminotransferase â ALT e aspartato aminotransferase â AST), testes da funÃÃo renal (urÃia e creatinina), contagens total e diferencial de leucÃcitos sangÃÃneos e do fluido peritonial e anÃlise das proteÃnas sÃricas por PAGE-SDS. Os animais tiveram seus ÃrgÃos vitais (fÃgado, rins, baÃo, intestino delgado, intestino grosso, pÃncreas e estÃmago) dissecados e as massas frescas relativas foram determinadas. Na avaliaÃÃo da toxicidade aguda, a fraÃÃo PL foi administrada por via oral a animais experimentais e a monitoraÃÃo de alteraÃÃes comportamentais desses animais tambÃm foi realizada. Quanto aos aspectos alergÃnicos, respostas imunolÃgicas do lÃtex de C. procera foram investigadas pelas vias oral e subcutÃnea em camundongos. Anti-soros contra as fraÃÃes PL, PD e BL foram analisados quanto a IgG e IgA por ELISA, enquanto IgE e IgG1 foram monitoradas por anafilaxia cutÃnea passiva (PCA) em ratos e camundongos, respectivamente. Os perfis protÃicos das fraÃÃes PL e BL foram analisados por PAGE-SDS. Com relaÃÃo aos resultados dos aspectos bioquÃmicos, a fraÃÃo PL possui uma quantidade apreciÃvel de proteÃnas, baixo conteÃdo de aminoÃcidos sulfurados (metionina e cisteÃna) e um nÃmero considerÃvel de aminoÃcidos (arginina, lisina, fenilalanina e tirosina) que representam sÃtios de clivagem para as enzimas proteolÃticas animais usadas. A fraÃÃo PL foi digerida pela aÃÃo da pepsina, tripsina e quimiotripsina como revelado por anÃlises de filtraÃÃo em gel e PAGE-SDS. A digestÃo completa das proteÃnas do lÃtex foi facilmente obtida pelo tratamento com a protease de S. griseus. Anticorpos policlonais de coelho produzidos contra PL nÃo apresentaram reaÃÃo cruzada com as molÃculas presentes nas fezes dos ratos experimentais. PadrÃes semelhantes de eletroforese foram observados para as quantidades desprezÃveis de proteÃna observadas nos materiais fecais dos animais controle e experimentais. Quanto aos resultados da avaliaÃÃo da toxicidade subcrÃnica, nenhuma morte foi observada durante o experimento. Animais controle e experimentais apresentaram taxa de crescimento semelhante e os ÃrgÃos vitais exibiram massas frescas relativas similares. As funÃÃes hepÃtica e renal, parÃmetros glicÃmicos e lipidÃmicos sÃricos situaram-se em nÃveis normais. Os padrÃes protÃicos eletroforÃticos dos soros dos animais controle e experimental exibiram perfis muito similares. A fraÃÃo PL nÃo induziu inflamaÃÃo aguda na cavidade peritonial dos ratos, como determinado pelas contagens total e diferencial de leucÃcitos. O resultado mais relevante detectado foi um aparente efeito proliferativo das proteÃnas do lÃtex sobre os linfÃcitos sangÃÃneos que tenderam a aumentar, enquanto os neutrÃfilos permaneceram em nÃvel normal. Deve ser enfatizado que os animais experimentais exibiram comportamento, aspectos morfolÃgicos e bioquÃmicos normais, indicando ser improvÃvel que os mesmos estivessem sob qualquer condiÃÃo patolÃgica ou infecciosa. Portanto, o incremento da populaÃÃo de linfÃcitos no soro sangÃÃneo deve ser atribuÃdo a um efeito notÃvel das proteÃnas do lÃtex e nÃo a qualquer evento prejudicial. A fraÃÃo PL foi incapaz de induzir toxicidade aguda, pois nenhuma mudanÃa comportamental foi observada nos animais experimentais. Com relaÃÃo aos resultados dos aspectos alergÃnicos, nenhuma das fraÃÃes induziu aumentos nos nÃveis de anticorpos, quando os camundongos receberam as fraÃÃes do lÃtex por via oral e, portanto, nÃo desenvolveram alergia. Entretanto, anti-soros de camundongos sensibilizados com PL e BL por administraÃÃo subcutÃnea apresentaram resposta imunolÃgica considerÃvel, e PD nÃo induziu sÃntese de anticorpos. O nÃvel de IgG aumentou consistentemente contra PL e BL, enquanto a resposta de IgA foi detectada unicamente contra PL. PL e BL induziram reaÃÃes de PCA muito fortes, sugerindo que ambas as fraÃÃes contÃm substÃncias do lÃtex envolvidas na alergenicidade. AlÃm disso, a anÃlise protÃica de PL e BL sugere que BL ainda retÃm proteÃnas residuais, co-precipitadas com a borracha, abundantemente encontradas na fraÃÃo PL, que poderiam explicar as alergenicidades semelhantes. Nenhuma reaÃÃo de IgG1 foi detectada em quaisquer dos anti-soros testados. Conclui-se que as proteÃnas do lÃtex foram parcialmente susceptÃveis à proteÃlise em ensaios in vitro e, ou foram digeridas e absorvidas, ou foram absorvidas Ãntegras, quando ingeridas em ensaios in vivo. Eventos tÃxicos ou letalidade associados ao lÃtex, como descritos na literatura, nÃo estÃo relacionados com a fraÃÃo PL. A fraÃÃo PL produziu efeito proliferativo parcial sobre as cÃlulas mononucleadas, principalmente linfÃcitos e nÃo induziu resposta inflamatÃria aguda, quando administrada pela via oral. Efeitos alergÃnicos puderam ser detectados, por via subcutÃnea, com as fraÃÃes PL e BL, e nÃo foram observados por via oral. EvidÃncias para uma possÃvel tolerÃncia sistÃmica Ãs proteÃnas do lÃtex por via oral foram fornecidas. As proteÃnas do lÃtex podem atuar como imunoestimulantes. As proteÃnas do lÃtex permanecem uma fonte interessante de molÃculas biologicamente ativas que devem ser estudadas em detalhe quanto Ãs suas propriedades estruturais, funcionais e aplicativas.

ASSUNTO(S)

bioquimica planta lactÃfera calotropis lÃtex de hevea brasiliensis calotropis procera lÃtex - testes de toxicidade alergia ao lÃtex

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