As repercussões psicossociais do recebimento do benefício de prestação continuada na vida no trabalho de pessoas com deficiência física / The psychosocial effects of receiving a Brazilian social assistance benefit (benefit of continuous provision) for the work-life of people with physical disabilities

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

05/05/2011

RESUMO

O trabalho proporciona realização pessoal, reconhecimento social e a vita activa, permitindo ao ser humano transformar a si próprio e ao mundo. Pessoas com deficiência, no entanto, têm pouca participação no mercado de trabalho, o que já foi relacionado ao recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O BPC poderia desestimular a participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho porque, caso o beneficiário comece a trabalhar, o benefício deve ser extinto imediatamente. Como o BPC é fundamental para o sustento de seus beneficiários e familiares, poderia estar exercendo uma função ambígua: garantindo a possibilidade da manutenção familiar à custa da manutenção da vulnerabilidade social destas pessoas com deficiência extremamente pobres por seu afastamento do trabalho. O objetivo desta pesquisa foi compreender como o BPC e a deficiência podem interferir na maneira com que as pessoas com deficiência física de locomoção se relacionam e constroem sua vida socialmente, utilizando o trabalho como instância de análise, principalmente na dimensão dos sentidos do trabalho e das possíveis formas de vinculação com o mercado e o mundo do trabalho. Participaram da pesquisa nove pessoas com deficiências físicas músculoesqueléticas com idades entre 19 e 40 anos. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas individuais e analisadas a partir da proposta da análise de conteúdo de Bardin. Estabeleceram-se as categorias empíricas: deficiências e desvantagens, trabalho e pessoas com deficiências, e BPC e suas repercussões, as quais tiveram como referencial o quadro teórico de Pierre Bourdieu e Robert Castel. Encontramos uma maioria de participantes com habitus no qual os trabalhos simplificados e precarizados são predominantes. O trabalho foi vinculado à idéia de sofrimento, dignidade e sustento. Encontramos pessoas trabalhando na informalidade e fazendo bicos para aumentar a renda, outras que trabalham sem remuneração, e outras que não trabalham: todos evitando o mercado formal em função do BPC. Reconhecendo a baixa remuneração e especificidade das oportunidades de trabalho disponibilizadas pelo habitus de classe, aliadas à instabilidade do mercado de trabalho formal e a importância do benefício na manutenção financeira familiar, os entrevistados, em sua maioria, optaram por permanecer com o BPC em detrimento do trabalho. O benefício parece atuar como uma alternativa à necessidade de se submeter a estes trabalhos simplificados pela garantia do sustento, oferecendo o tempo livre para que eles pudessem realizar outras atividades. São estas outras atividades de trabalho, por vezes não remuneradas, que proporcionam a realização pessoal, reconhecimento social e a vita activa que esperávamos por meio do trabalho formal. A deficiência, fonte de preconceito para a maior parte dos entrevistados, não parece ter influenciado a vinculação com o trabalho, mas sendo uma diferença reconhecida como diversidade, proporciona a vantagem da proteção social por meio do BPC, reduzindo a vulnerabilidade social e as desvantagens sociais causadas não só pela deficiência, mas principalmente pelo habitus de classe pobre de oportunidades sociais

ASSUNTO(S)

assistência social deficiente físico fatores psicossociais labour physically disabled psychosocial factors social work trabalho

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