AS PERCEPÇÕES DE GÊNERO DAS MULHERES CAMPONESAS AFRODESCENDENTES NO MUNICÍPIO DE PICUÍ-PB

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este estudo consiste em analisar as percepções das camponesas afrodescendentes acerca das relações de gênero. Buscamos compreender em que medida as mulheres afrodescendentes camponesas, que possuem alguma forma de inserção política em organização sociais, reelaboram ou não as relações de gênero no âmbito da agricultura familiar e no espaço doméstico. Procuramos analisar os entendimentos das camponesas afrodescendentes sobre o que seja homem e mulher; conhecer, a partir da ótica dessas mulheres, como são estabelecidas as divisões sexuais do trabalho nos âmbitos da agricultura familiar e doméstico; e quais as perspectivas que elas apontam para construção do equilíbrio entre os sexos. O estudo contemplou quinze mulheres residentes nas comunidades de Atanásio, Coruja e Pedreiras, inseridas no perímetro rural do município de Picuí-PB, participantes das Associações Comunitárias e Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Os instrumentos que utilizamos para a coleta de dados foram: técnica de observação livre, entrevista semi-estruturada gravadas em fitas cassetes, utilização do diário de campo, além do recurso etnográfico que nos serviu de base para a caracterização das comunidades selecionadas e do estilo de vida desenvolvido pelas mulheres sujeito da pesquisa. Os resultados revelaram que a maioria das mulheres ainda possuem um entendimento bastante conservador e patriarcal das relações de gênero, atribuindo ao homem o papel de provedor, além do controle do espaço da casa e da agricultura familiar. Com relação ao entendimento do ser mulher, as entrevistadas majoritariamente se colocam em posição de conformidade convivendo com o sofrimento de forma resignada. Os sofrimentos das mulheres são referentes à falta de dinheiro, dependência financeira dos companheiros, falta de água, preocupação com os filhos e marido, sobrecarga de tarefas, além da situação de pobreza em que vivem. Algumas mulheres gradativamente têm despertado na perspectiva de ressignificar as relações de gênero quando questionam a não colaboração do marido nas atividades domésticas, a não valorização do trabalho feminino, a ausência de liberdade, o anseio por trabalho remunerado para se tornarem independente economicamente de seus maridos. Essas poucas mulheres sinalizam para a reelaboração de gênero no espaço da agricultura familiar e no espaço da casa mesmo que ainda seja de uma maneira bastante incipiente. O nosso estudo nos apontou que as relações de gênero no âmbito da agricultura familiar e no espaço doméstico ainda seguem o modelo patriarcal e poucas mulheres conseguem de maneira lenta vislumbrar uma nova elaboração para a construção do gênero, tendo como princípio a igualdade entre os sexos

ASSUNTO(S)

gender descent of blacks family agriculture ciencias sociais aplicadas agricultura familiar gênero afrodescendência

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