As múltiplas notabilidades de Afonso Arinos: biografias, memórias e a condição de elite no Brasil do século XX

AUTOR(ES)
FONTE

Rev. Sociol. Polit.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2015-06

RESUMO

Resumo No artigo são analisadas as bases sociais e os suportes institucionais que constituem as multinotabilidades de Afonso Arinos, protagonista de disputas políticas e intelectuais ao longo do século XX no Brasil. O foco recai, por um lado, nos amálgamas entre notoriedade social (genealógica, familiar, profissional e intelectual) e reputação política (atribuições, cargos, lideranças, atributos e feitos), por outro, nas tensões decorrentes das responsabilidades herdadas, da divisão do trabalho político familiar, da inscrição em domínios diversos, da compatibilidade de gramáticas divergentes, entre outras. A partir da produção biográfica e autobiográfica relativa ao personagem são exploradas: (i) as articulações entre a “vocação” para representar (nos mais variados sentidos que a expressão pode adquirir) e a “arte” de escrever; (ii) os usos sociais, ideológicos e políticos do trabalho coletivo de produção de créditos sobre uma personalidade política; (iii) a gestão da própria imagem e as teorizações nativas sobre a profissão política presentes nas memórias de um político. O tratamento dessas dimensões revela os contornos de um mosaico de competências legítimas para a consagração política e intelectual: habilidades, saberes e trunfos não necessariamente conciliáveis ou livres de processos traumáticos originários da justaposição ou redefinição de papeis, ocasionados, por sua vez, pela reconfiguração do espaço político e por exigências de readequação das estratégias de reprodução familiar. Do mesmo modo, mediante a análise de um conjunto de tomadas de posição do personagem e sobre ele vêm à tona distintos mecanismos edificadores da “multinotabilidade” do agente e de certos domínios de inserção, que aparecem como produtos e produtores da multiposicionalidade desfrutada por uma elite letrada e votada que comandou, simultaneamente, diferentes esferas de atuação política e cultural. Conjuga-se a isso, a possibilidade de compreender como o volume dos capitais possuídos e a combinação entre eles conferem a Afonso Arinos não somente a autoridade para produzir, manipular e impor definições sobre o exercício do métier do político e do “homem de letras”, como também o potencial sem equivalentes acumulado para a gestão de identidades estratégicas.

ASSUNTO(S)

elite política intelectuais memórias biografias profissão política

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