As biotecnologias e a politização da vida / Biotechnologies and the politicization of life

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Esta pesquisa trata, em um plano geral, do problema das relações discursivas e práticas da ciência e das ações políticas relativas à produção e difusão das novas biotecnologias nas sociedades contemporâneas. Procura-se compreender como a natureza, através das biotecnologias, não está livre dos embates políticos e situa-se no centro das principais polêmicas contemporâneas, como observado nas controvérsias a respeito dos transgênicos. Discute-se, através de entrevistas com cientistas da área da biotecnologia molecular nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e da análise documental especializada (nacional e internacional), como peritos compreendem a relação entre ciência e sociedade e como se estrutura a argumentação científica na avaliação das conseqüências sociais e ambientais das novas biotecnologias. Parte desta discussão é fundamentada nos estudos sociais em ciência e tecnologia (CTS) a fim de entender como um fato e artefato tecnocientífico é fruto do ordenamento de uma heterogeneidade de entidades sociais e naturais. A partir das análises documentais e das entrevistas verificou-se que a pauta de temas biotecnológicos mais abertos, de repercussão pública, como o dos alimentos geneticamente modificados, a dinâmica discursiva do "argumento verdadeiro" tende a criar posições irreconciliáveis e polarizadas entre os atores sociais interessados na temática biotecnológica. Apesar da ciência ainda ser legitimada pelo discurso de sua neutralidade, referendado pelo pretenso desinteresse do cientista em seu laboratório, na fala dos cientistas entrevistados identifica-se um leque de prioridades estruturais que contradizem esta neutralidade, tendo na noção de desenvolvimento socioeconômico um importante recurso de legitimação das pesquisas em biotecnologia. De um ponto de vista teórico, a pesquisa retoma o par conceitual biopoder/biopolítica para analisar como a verdade científica estrutura seu efeito discursivo de neutralidade, através de uma política geral sobre a vida, com o gene ocupando um papel discursivo central. Através das interações entre humanos e artefatos tecnológicos a retórica da verdade científica estende-se para além do campo científico e torna-se argumento de legitimação de decisões sociotécnicas de grande impacto social, como é o caso dos organismos geneticamente modificados. No rastro da difusão de conhecimentos e artefatos biotecnológicos são criadas competências e incorporadas expectativas biopolíticas na formação de identidades de acordo com padrões de saúde, estes informados pela ciência.

ASSUNTO(S)

biotecnologia brasil, região sul biopolitics biopolítica biotechnology technoscience sociologia da agricultura transgênicos social studies in science and technology inovações tecnológicas biopoder sociabilidade ciencia e politica desenvolvimento rural

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