Alterações da secreção e da sensibilidade a insulina associadas a deficiencia proteica durante a vida intra-uterina e a lactação

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

Estudos epidemiológicos têm sugerido que a desnutrição intra-uterina e durante a infância é um dos principais determinantes da suscetibilidade a doenças como o diabetes do tipo 2 e a síndrome de resistência à insulina. Presume-se que a desnutrição materna afete o crescimento inicial da prole, altere a secreção de insulina e a sensibilidade a esse hormônio. No presente trabalho estudamos a influência da restrição protéica durante a vida intra-uterina e a lactação sobre a secreção e a ação da insulina em ratos recém-desmamados e em ratos adultos recuperados da desnutrição. A secreção de insulina e a homeostasia da glicose foram examinadas em crias recém-desmamadas (28 dias de vida) de ratas Wistar alimentadas durante a gravidez e a lactação com dieta contendo 17% de proteína (grupo NP) e 6% de proteína (grupo LP). Durante teste de tolerância à glicose oral, ratos do grupo LP apresentaram áreas sob as curvas de concentração de glicose e de insulina séricas menores em relação aos ratos do grupo NP. A velocidade de desaparecimento da glicose durante teste subcutâneo de tolerância à insulina (Kitt) foi maior no grupo LP do que no grupo NP, indicando aumento da sensibilidade à insulina. Ilhotas pancreáticas isoladas de ratos do grupo LP apresentaram redução da secreção de insulina frente à estimulação com glicose, arginina e leucina. Essas ilhotas apresentaram redução da primeira e segunda fases de secreção de insulina em resposta à glicose. Finalmente, nas ilhotas pancreáticas do grupo LP a incorporação de 45Ca após 5 ou 90 minutos de incubação em meio contendo glicose (que refletem principalmente a entrada e a retenção de Ca2+, respectivamente) foi menor em relação às ilhotas do grupo NP. A secreção de insulina e a sensibilidade ao hormônio foram avaliadas em ratos adultos (90 dias de vida) mantidos com uma dieta contendo 17% de proteína (grupo C) ou 6% de proteína (grupo LP) durante a vida intra-uterina, a lactação e após o desmame, e em ratos que receberam uma dieta contendo 6% de proteína durante a vida fetal e a lactação e uma dieta contendo 17% de proteína após o desmame (grupo R). Durante o teste de tolerância à glicose oral, as áreas sob as curvas de concentração de glicose sérica foram similares nos três grupos. Ratos dos grupo LP e R apresentaram áreas sob as curvas de concentração de insulina sérica significativamente reduzidas em relação aos ratos do grupo C. A velocidade de desaparecimento da glicose durante o teste intravenoso de tolerância à insulina (Kitt) foi maior nos ratos do grupo LP em relação aos ratos dos grupos C e R. Em ilhotas isoladas a secreção de insulina em resposta à glicose foi diferente entre os grupos testados, sendo maior no grupo C e menor no grupo LP. Em músculo gastrocnêmio de ratos do grupo LP foi observado aumento dos níveis de receptor de insulina, da fosforilação de substrato-l do receptor de insulina (IRS-l) e maior associação entre o substrato-l do receptor de insulina e fosfatidilinositol 3-quinase (PI 3-quinase) em relação aos animais do grupo C. No grupo R as alterações dos passos iniciais da ação da insulina foram parcialmente restauradas. Esses resultados tomados em conjunto sugerem que a desnutrição durante a vida intra-uterina e a lactação altera permanentemente a secreção de insulina. A resposta insulínica deficiente &ente à estimulação com glicose e aminoácidos pode estar associada à incapacidade das células beta pancreáticas em "manejar" adequadamente os íons cálcio. Em ratos desnutridos e recuperados, a homeostasia glicêmica é mantida, pelo menos em parte, pelo aumento da sensibilidade à insulina, resultante das alterações nos passos iniciais da via de sinalização do referido hormônio

ASSUNTO(S)

calcio glicemia insulina - receptores pancreas desnutrição fetal rato como animal de laboratorio

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